
Jane Campion é dona de um cinema feminino (se não, feminista), com suas produções sempre girando em torno de mulheres, geralmente personagens presas a convenções. Depois de 12 anos longe do cinema, trabalhando apenas na TV (basicamente nas duas temporadas da minissérie “Top of the Lake”), a cineasta retorna à tela grande ampliando o leque de seu cinema, lançando “Ataque dos Cães“, seu primeiro filme cujo protagonista é um homem, já disponível na Netflix.
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Sim, “Ataque dos Cães” apresenta uma personagem feminina marcante, uma mulher que se entrega ao alcoolismo diante da inadequação (a personagem é vivida lindamente por Kirsten Dunst). Mas o longa pertence aos homens, em especial a Benedict Cumberbatch, que vive um fazendeiro orgulhoso de ser um bronco e que inferniza a vida de Rose e seu filho Peter logo após ela se casar com seu irmão George (Jesse Plemons).
Ainda que desvie do protagonismo feminino em seu novo trabalho, Jane Campion não abre mão de seu olhar contemplativo e visão de cinema em “Ataque dos Cães”. Longe de romper com uma narrativa clássica, a diretora também não se entrega ao convencional, fugindo sempre que pode de uma representação mais tradicional em que tudo é dito e mostrado, abrindo espaço para várias lacunas a serem preenchidas pelo público.

Baseado em um livro homônimo, “Ataque dos Cães” foca sua câmera em diferentes relações, entre os dois irmãos vividos por Cumberbatch e Plemons, da mãe com o filho (Dunst e o estranhíssimo Kodi Smit-McPhee), da esposa com o marido, do peão com o rapaz afeminado. O filme vai mudando de foco, nem sempre deixando claro as motivações de seus personagens, o que pode desagradar quem procura um cinema mais de causa e efeito, com tudo mastigado na tela.
Lindamente fotografado por Ari Wegner e com trilha sonora de Jonny Greenwood (do Radiohead), a produção tem seu próprio tempo, com vários planos abertos e de ritmo lento que também podem cansar o público mais afeito aos filmes da Marvel. Mas ainda que a trama demore a acontecer, “Ataque dos Cães” é um filme prazeroso de ver mesmo que apenas por suas imagens.
Na segunda metade, quando o roteiro se concentra na relação entre o personagem de Phil Burbank e o filho de Rose, o filme ganha novos contornos e força, em especial graças à carga homoerótica que Campion emprega à história.
Com um ótimo elenco (Benedict Cumberbatch e Kirsten Dunst são as principais apostas para receberam indicações ao Oscar), “Ataque dos Cães” é um belo retorno de Jane Campion à tela grande, com a diretora sem medo de subverter um dos gêneros mais caros ao cinema hollywoodiano, o faroeste.
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