O cinema nacional tem muitos problemas. Talvez problemas até demais, sendo impossível citá-los todos em apenas um texto de um blog que ninguém lê. Um problema evidente é o fato de ele ser tematicamente limitado, dificilmente saindo dos formatos que ele mesmo impôs para si: a comédia genérica, hoje relegada às produções paupérrimas da Globo Filmes; as produções que abordam o tema da violência social por meio de um viés sociológico cansativo e chato; e o filme do sertão, quase uma versão nacional do faroeste, o gênero estadunidense por excelência.
Raros são os exemplares que fogem desse caldeirão limitante de óticas, e os poucos que conseguem se libertar dessas limitações ou caem na vala sem fim dos filmes de autor que ninguém vê/suporta ou simplesmente não encontram seu público. O principal mérito de Os 3, talvez seja, justamente, buscar um caminho diferente, ainda que não represente nada de novo, cinematograficamente falando.
O filme de Nando Olival é quase uma versão nacional do bacaninha Três Formas de Amar, que fez relativo sucesso no início dos anos 90 ao mostrar um triângulo amoroso limpinho e quase assexuado entre três amigos: uma garota e dois rapazes. Tire a trilha sonora pop do filme hollywoodiano, acrescente um sotaque paulista e uma suposta crítica aos reality shows e temos o longa (nem tão longo assim) brasileiro.
Muito se fala sobre a falta de bons roteiristas no cinema nacional, mas é também evidente a carência de bons diretores, profissionais daquele tipo que não necessariamente precisam ser autores, mas sabem conduzir cenas e filmar de modo articulado e que beneficia a narrativa. “Os 3”, para a sorte do espectador, não sofre desse defeito e grande parte do seu charme reside na desenvoltura fílmica de Olival, que sabe onde colocar a câmera, monta com precisão e dá uma cara moderna ao longa sem, necessariamente, transformá-lo em uma experiência estética estonteante e oca.
O carisma dos três atores principais também ajuda, compensando até alguns defeitos evidentes da produção. Seja a falta de um propósito para a questão dos reality shows, que funciona como mote, mas parece ser jogada apenas para dar estofo a uma história que é apenas banal. Seja a ausência de autenticidade na interpretação dos atores mais velhos e de um desfecho mais marcante e amarrado. Ou mesmo uma narração em off que colocaria tudo a perder se fosse mais utilizada. Todas essas falhas são meio que deixadas de lado graças à simpatia que o filme desperta.
No final da história, “Os 3” é aquele típico filme médio que tanto faz falta ao cinema nacional. As pretensões são pequenas e não se colocam à frente da trama. O resultado não vai mudar sua vida, mas é satisfatório e um prazer de ser visto. O filme pode até ser considerado uma bobagenzinha, mas é filmado com tanto empenho e boas intenções que é quase impossível sair do cinema indiferente a ele, mesmo que depois ele não deixe muitas marcas na memória.
Você é um admirável crítico de cinema! Adoro todas as suas pontuações em relação aos filmes. Acho que precisamos de pessoas com visão ampla sobre cinema, principalmente, cinema brasileiro. Continuarei lendo suas críticas.