Ninfomaníaca

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Depois da porrada chamada “Anticristo” e do poético “Melancolia”, eu esperava mais de Ninfomaníaca – Volume I, projeto em que Lars Von Trier lança seu olhar controverso sobre o tema mais tabu dos tabus: o sexo. O resultado final, porém, fica muito aquém do imaginado. “Ninfomaníaca” é um filme interessante, mas que fica em cima do muro e causa muito pouco impacto se pensarmos que Von Trier é o tipo do cineasta que não liga muito para concessões.

Um dos problemas de “Ninfomaníaca – Volume I” é que fica difícil analisá-lo em virtude de uma série de questões. A primeira delas é a declaração pública do diretor dizendo que desistiu do corte final da produção (um épico de mais de 5 horas que foi reeditado e dividido em duas partes para se adequar mais à lógica do mercado). Como saber que o que estamos vendo é a realmente a visão do autor ou uma releitura dos produtores? Depois, a própria lógica de duas parte não ajuda. Como entender a proposta do cineasta diante de um longa visto apenas pela metade e que não deixa muito claro suas intenções? [Favor não fazer comparações com filmes como “O Hobbit”, “Jogos Vorazes” ou “Harry Potter” e outras produções essencialmente narrativas divididas em partes para lucrar mais; o esquema aqui é outro]

Diante da primeira parte, o que se pode dizer é que Von Trier aposta na sua já familiar estrutura capitular e a uma série de flashbacks para narrar a história de Joe, que faz questão de se autointitular ninfomaníaca e uma pessoa má durante toda a duração do filme ao relembrar sua trajetória peculiar ao ouvinte erudito interpretado por Stellan Skarsgård e ao próprio espectador. Assistimos a sua relação com o pai e a mãe (os pouco explorados Christian Slater e Connie Nielsen), com uma amiga que de certa forma a introduz no mundo do sexo e logo em seguida a decepciona e uma série de amantes que pouco significam em sua jornada (com exceção de Shia LaBeouf).

Fazendo analogias entre sexo e pesca, equações matemáticas e uma música de Bach, o cineasta constrói ideias interessantes que são pouco desenvolvidas e perdem impacto diante de uma narrativa surpreendentemente didática e verborrágica. Sim, Lars Von Trier, o cineasta que nunca teme apelar para todos os recursos cinematográficos possíveis para defender suas ideias, dirige “Ninfomaníaca – Volume I” um tom abaixo do seu normal e sem o peso e a relevância de seus trabalhos anteriores.

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Claro que, discorrendo sobre sexo, o longa traz um desfile de paus, bucetas, bundas e sexo explícito, mas, em pleno 2014, só quem fica ruborizado com isso deve ser as mesmas pessoas quem leem coisas como “Cinquenta Tons de Cinza”. O choque aqui parte muito mais da forma quase puritana com que ele parece julgar sua personagem, um poço de culpa e autopunição. “Ninfomaníaca – Volume I” é filmado quase como se Von Trier quisesse realmente nos fazer crer que Joe (a ótima Stacy Martin, na fase jovem da personagem; e Charlotte Gainsbourg, que pouco tem a fazer nesse capítulo, na fase adulta) é uma pecadora. Mas difícil saber se no seu volume final o cineasta vai subverter tudo e mostrar uma veia mais irônica ou transgressora que falta aqui.

Por enquanto, resta ao espectador alguns risos involuntários e um filme que discorre sobre sexo de uma forma um tanto apática, resultando em uma experiência sensorial das mais sem sensações possível. Não deixa de ser divertido de certa forma, é verdade. E essa primeira parte traz pelo menos uma grande cena e uma grande interpretação: Uma Thurman patética diante da situação mais constrangedora das situações constrangedoras.

Agora é esperar até março, quando estreia a segunda parte do projeto, e ver o que Lars Von Trier nos reserva. Ele já deu provas de que sempre pode surpreender.

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