A década de 1990 foi bastante prolífica em termos de filmes sobre serial killers. Tudo culpa de “O Silêncio dos Inocentes”, que levou cinco Oscar para casa e criou uma febre. Vários das produções desse subgênero lançadas na época são esquecíveis e derivativas, já outras deixaram marcas. Algumas focam na investigação; outras nos próprios detetives, suas relações com as vitimas e/ou testemunhas; poucas têm o foco central nos próprios serial killers, suas personalidades e motivações.
No final da década, o gênero se desgastou, e as produções foram ficando raras. Entre os batidos filmes de terror e produções pouco vistas lançadas diretamente em DVD, os serial killers acabaram ganhando nova vida e mais destaque na TV em seriados como “Dexter”, “The Following”, “The Fall” e “True Detective”.
O Silêncio dos Inocentes (1991) – Apenas três filmes levaram para casa os cinco Oscar principais (filme, direção, ator, atriz e roteiro). “O Silêncio dos Inocentes” é um deles. Lançado no começo da década de 1990, o longa virou paradigma para o gênero graças à interpretação icônica de Anthony Hopkins como Hannibal Lecter, o carisma de Jodie Foster e a direção classuda de Jonathan Demme. Demme imprime um ritmo nervoso ao filme e cria uma narrativa tensa, envolvente e muitas vezes assustadora. Depois o filme ganhou continuação, prequel e virou seriado, mas nenhuma das releituras chega aos pés desse clássico. Destaque: a edição em paralelo da cena em que Foster descobre onde serial killer vive.
Instinto Selvagem (1992) – Detetive se envolve sexualmente com uma suposta serial killer que mata de acordo com os livros que escreve. Apesar da trama batida e de ter feito mais sucesso por causa das cenas de sexo e pela cruzada de pernas da Sharon Stone (linda e sexy), “Instinto Selvagem” é um suspense climático dirigido por um Paul Verhoeven que não tem medo de ser over e caricato. Graças à química entre Michael Douglas e Sharon Stone, que virou estrela depois do longa, uma trilha sonora hitchcockiana e à fotografia de cores quentes, “Instinto Selvagem” envelheceu bem e ainda funciona enquanto filme. As cenas de sexo não chocam mais ninguém, mas a encenação cafona e a narrativa fluída ainda despertam interesse. Destaque: o interrogatório em que Sharon Stone assume totalmente o controle da cena.
Seven. Os Sete Crimes Capitais (1995) – Lindamente dirigido por David Fincher, saído do não tão bem sucedido “Alien 3”, o filme é belíssimo de se ver, ainda que tenha o macabro e o bizarro como motes. Usando a direção de arte e a fotografia quase como personagens do longa, Fincher cria uma encenação lúgubre e marcante que cimentou sua trajetória ao olimpo dos grandes diretores modernos. A estrutura do filme não é inovadora, e a trama (crimes inspirados nos sete pecados capitais) segue a fórmula do gênero, mas Fincher foco no clima e acerta em cheio. O longa não é perfeito (Brad Pitt está lindo, mas deixa a desejar em termos de atuação, por exemplo), mas virou um clássico e referência do gênero. Destaques: a bela cena de perseguição, um Kevin Spacey arrepiante e o final surpreendente.
Copycat. A Vida Imita a Morte (1995) – Lançado no mesmo ano que “Seven”, o longa acabou sendo ofuscado, mas tem o seu charme. Ainda que tenha envelhecido (principalmente em termos de figurino) e não fuja muito da fórmula estabelecida, a premissa é interessante o suficiente para prender a atenção (serial killer copia outros serial killers) e a dupla de protagonistas (Sigourney Weaver e Holly Hunter) se empenha em suas atuações. Às vezes, a direção de Jon Amiel parece frouxa (principalmente em algumas cenas de ação), mas o suspense funciona e não faz vergonha. Destaque: a química entre Weaver e Hunter.
Beijos que Matam (1997) – O filme foi lançado quase como uma curiosidade graças a presença de Morgan Freeman reprisando um papel parecido com o de “Seven”. Aqui ele investiga o sumiço de garotas, entre elas sua sobrinha. O clima é tenso e a violência é mais sugerida do que propriamente mostrada. Apesar da premissa um tanto estapafúrdia (uma das vítimas escapa do cativeiro do psicopata e praticamente vira uma investigadora) e da falta de impacto da revelação do criminoso, o longa funciona. Freeman repetiu o papel do detetive Alex Cross mais uma vez em uma continuação sem grande impacto. Destaques: a cena de fuga da personagem de Ashley Judd e a fotografia que satura as cores da floresta que serve de cativeiro para as moças.
Outras cinco produções que merecem serem assistidas: Blink – Num Piscar de Olhos é bem genérico e formulaico, mas traz uma boa atuação de Madeleine Stowe, uma ex-cega que vira testemunha de um assassinato e vira a próxima possível vítima de um serial killer; Uma Thurman também é uma cega que pode ser a próxima vitima de um serial killer no bobinho e arrastado Jennifer 8. A Próxima Vitima, que vale mais pela curiosidade de ver a atriz bem nova; O Verão de Sam não é propriamente um filme sobre serial killers, mas usa um famoso caso que aconteceu em Nova York nos anos 1970 como pano de fundo. Spike Lee exagera nas cores, capricha na trilha sonora e faz um ótimo retrato da época; Assassinos por Natureza é um dos melhores filmes de Oliver Stone. Exagerado, caricato, divertido e polêmico, o longa acompanha as “aventuras” de um casal de assassinos que vira atração na mídia; Kalifornia não chamou muito a atenção quando lançado, mas traz Brad Pitt como um assassino psicopata antes de se tornar uma estrela. O filme narra o drama de um casal que quer percorrer a trilha de serial killers famosos nos EUA e coloca um anúncio procurando um casal para dividir as despesas da viagem: Brad Pitt e Juliette Lewis respondem ao anúncio e transformam a viagem do casal em um inferno.