Comédias românticas existem no cinema desde sempre e revelaram atores, ganharam prêmios e ajudaram a moldar as expectativas do público em relação ao amor. Depois que Meg Ryan fingiu um orgasmo na mesa de um restaurante no final da década de 1980 (no ótimo “Harry & Sally, Feitos um para o Outro), a década de 90 abriu as porteiras e viu uma avalanche de exemplares do gênero.
Entre vários filmes ruins e derivatidos, alguns viraram clássicos e, pelo menos, quatro atrizes se destacaram nesse tipo de produção: Meg Ryan, Julia Roberts, Andie MacDowell e Sandra Bullock. Outras também tentaram vencer no gênero, mas sem muito grande sucesso a não ser em exemplos isolados: Toni Collette (do ótimo “O Casamento de Muriel”), Marisa Tomei (“Coração Indomável”, “Só Você”) e Gwyneth Paltrow (“Emma”, “Shakeaspeare Apaixonado”).
Sintonia de Amor (1993) – Depois do sucesso de “Harry & Sally”, Meg Ryan virou o rosto feminino marca registrada das comédias românticas. Ela fez várias (“Mensagem para Você”, “Por Trás Daquele Beijo”, “A Lente do Amor”, “A Teoria do Amor”, “Surpresas do Coração” e por aí vai). O melhor da década de 90, no entanto, é o açucarado “Sintonia de Amor”. Graças a uma direção inspirada e um roteiro afiado de Nora Ephron, o longa pega carona no sucesso de “Tarde Demais para Esquecer” e coloca Tom Hanks (um viúvo) e Meg Ryan (uma noiva) como um improvável casal que só sabe da existência um do outro graças a um programa de rádio e cartas. A premissa é ingênua de doer, ainda mais nos tempos cínicos de hoje, mais de 20 anos depois de seu lançamento, mas o longa segue muito bem a fórmula do gênero e consegue ser romântico sem o casal principal se beijar uma única vez.
Na virada do milênio, Meg Ryan foi abandonando as comédias românticas aos poucos e só fez uma de grande destaque: o irregular “Kate & Leopold”, ao lado de um charmoso Hugh Jackman.
Quatro Casamentos e um Funeral (1994) – A química entre Hugh Grant e Andie MacDowell é perfeita aqui. O longa, dirigido por Mike Newell e roteirizado por Richard Curtis, é uma dessas raras comédias românticas que trazem alguma coisa de original ao gênero. Aqui não existe arroubos românticos e promessas ingênuas. Charlie conhece Carrie em uma festa, transam e vivem uma série de desencontros. Ela se casa com outro. Ele promete se casar com outra. O casamento aqui é desmistificado e deixado de lado. O matrimônio e todas suas convenções não são necessários para que Charlie e Carrie sejam felizes para sempre.
Antes de “Quatro Casamentos e um Funeral”, Andie MacDowell serviu de par romântico para Gerard Depardieu no ótimo “Green Card” e para Bill Murray no divertido “Feitiço do Tempo”. Depois de formar par com Hugh Grant, a atriz tentou a sorte em poucas comédias românticas, nenhuma grande sucesso: “Eu, Minhas Mulher e Minhas Cópias” (com Michael Keaton), “Michael – Anjo e Sedutor” (com John Travolta) e “Meu Adorável Sonhador” (com Andy Garcia) são algumas delas.
Enquanto Você Dormia (1995) – Um ano antes de “Enquanto Você Dormia”, Sandra Bullock virou sinônimo de sucesso graças a “Velocidade Máxima”. Apesar de ser mais versátil do que Meg Ryan em termos de escolhas de papel, a atriz tentou o gênero em filmes de maior ou menor sucesso como “Corações Roubados”, “Quando o Amor Acontece”, “Da Magia à Sedução” e “Forças do Destino”, mas sua melhor comédia romântica dos anos 1990 é mesmo o bobinho “Enquanto Você Dormia”. O filme é bem clichezão, mas convence graças à simpatia de Bullock. Ela é uma moça simples e trabalhadora que possui uma paixão platônica pelo engomadinho Peter Gallagher. Por artimanhas do destino, ela vira noiva por acaso do rapaz (que fica em coma depois dela salvar sua vida), só para logo em seguida se apaixonar pelo irmão dele, um cara simples, trabalhador e com a cara de pastel do Bill Pullman. Não foge um milímetro da fórmula, mas é bem simpático.
Nos anos 2000, a atriz continuou explorando as comédias românticas e fez o chatinho “Amor à Segunda Vista” (com Hugh Grant), o sucesso “A Proposta” (com Ryan Reynolds) e o fracasso “Maluca Paixão” (com Bradley Cooper).
Shakeaspeare Apaixonado (1998) – Apesar das roupas de época e da pompa da produção, o filme, no fundo, é uma comédia romântica, ainda que os personagens não terminem juntos. Hoje odiado, o longa fez bastante sucesso na época, levou o Oscar de melhor filme (o favorito era “O Resgate do Soldado Ryan”), atriz (Gwyneth Paltrow deve sofrer bullying até hoje por ter vencido da Cate Blanchett e da Fernanda Montenegro) e mais uma penca. Apesar de ser bem bobo, o roteiro é redodinho, fazendo várias referências à obra de Shakespeare, e o elenco é bem simpático e competente (Ben Affleck, Judi Dench, Geoffrey Rush, Tom Wilkinson, Joseph Fiennes, Imelda Staunton, Simon Callow, Colin Firth, além de Paltrow).
Antes de “Shakespeare Apaixonado”, Gwyneth Paltrow fez outra comédia de época, a divertida “Emma”, baseada na obra de Jane Austen. Ela se arriscou no gênero ainda nos poucos vistos “O Primeiro Amor de um Homem” e “De Caso com o Acaso”, além do sucesso “Duets”.
Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) – Posso decretar “Notting Hill” como a melhor comédia romântica de todos os tempos? Claro que posso. A premissa da trama é bem interessante, e a metalinguagem de colocar Julia Roberts interpretando uma estrela de cinema que se apaixona por um cara normal (Hugh Grant) é perfeita. Lindamente dirigido por Roger Mitchell e com um roteiro cheio de situações divertidas e diálogos impecáveis de Richard Curtis (responsável pelo roteiro de “Quatro Casamentos e um Funeral”), o filme ainda traz uma química perfeita entre Roberts e Hugh Grant. Algumas falas são de cortar o coração e a cena em que Hugh Grant passeia por Notting Hill ao som de “Ain’t No Sunshine” demarcando a passagem de tempo é um achado.
Julia Roberts despontou para o estrelato graças ao sucesso de “Uma Linda Mulher”, comédia romântica que marcou época nos anos 1990. Ela ainda atuou ainda no ótimo “O Casamento do Meu Melhor Amigo” e no água com açúcar “Noiva em Fuga”, entre outras produções do gênero de menor destaque.