Xavier Dolan não me convence. Seus filmes me parecem muito mais uma desculpa para mostrar a erudição do jovem cineasta do que propriamente narrativas que mereçam ser contadas. O diretor até tem certo dom para criar imagens marcantes e cenas bonitas, mas a pretensão em que ele mergulha seus trabalhos soa arrogante e, por vezes, calculada demais.
Mommy não difere muito dos outros filmes de Dolan. Repete atores, temáticas e estratégias: muita câmera lenta, trilha sonora pop eclética, cenas às vezes filmadas como videoclipes e descoladas da narrativa. Esse olhar “moderno” e “alternativo” que Dolan insiste em imprimir às suas obras acaba, muitas vezes, pesando contra. Em “Mommy”, Dolan não abandona essas afetações. O próprio formato da tela, ora quadrado, ora widescreen, parece muito mais um capricho do cineasta do que uma necessidade narrativa.
Como em um ciclo, Dolan, aqui, volta ao tema central de sua estreia (“Eu Matei Minha Mãe”), a relação conturbada entre uma mãe e um filho, e repete a mesma narrativa gritada e tensa de seu primeiro longa. Diane (Anne Dorval, fazendo o papel de mãe como em “Eu Matei Minha Mãe”) e Steve (Antoine-Olivier Pilon) mantêm uma relação de amor e ódio, carinho e brigas, violência e ternura. Ela é a mãe um tanto relapsa e que não sabe lidar com o problema de hiperatividade e surtos violentos do filho. Entre os dois, surge Kyla, a vizinha tímida e que sofre de gagueira que acaba, sem querer, trazendo um equilíbrio para a relação de Diane e Steve.
O filme tem seus momentos. A vantagem de “Mommy” em comparação a “Eu Matei Minha Mãe”, por exemplo, é que Dolan parece mais maduro e experiente, então o longa soa menos ingênuo e artificial que sua estreia. As boas interpretações do elenco e o desenrolar natural da trama também ajudam a dar credibilidade ao longa.
Mas Dolan é Dolan, e “Mommy” paga por seus eventuais excessos. Algumas cenas são plasticamente belas, mas vazias e mais longas do que deveriam. Dolan parece esticá-las para que elas ganhem um significado a mais, mas isso só compromete o ritmo do filme. O roteiro é interessante, a história tem potencial, mas o cineasta parece não perceber que determinados momentos da trama não necessitam de suas intervenções audiovisuais. Essas afetações só comprometem a força de uma história que poderia apelar menos para a beleza plástica e mais para a carga dramática.