Pouca gente se lembra, mas “A Identidade Bourne” mudou os filmes de ação e espionagem quando foi lançado em 2002. Se hoje temos um James Bond com uma roupagem mais madura e realista e protagonizado pelo musculoso e másculo Daniel Craig, culpem o sucesso do longa estrelado por Matt Damon.
Com uma edição frenética e um ritmo mais alucinante, a série do menos espião e mais assassino profissional Jason Bourne trazia tramas menos rocambolescas e nenhum espaço para o humor escapista tão comum às produções de ação. O sucesso foi imediato, e Bourne ganhou uma série de três filmes produzidos em crescendo, além de um interessante spin-off estrelado por Jeremy Renner e Rachel Weisy. Mesmo tendo anunciado que não voltaria mais ao papel, nada em Hollywood é duradouro e Matt Damon retorna em mais um capítulo da série no aguardado Jason Bourne, novamente dirigido pelo ótimo Paul Greengrass. Antes de ver o novo episódio, fiz uma maratona com todos os longas da série.
A Identidade Bourne (2002) – Longe de ser perfeito, esse capítulo inaugural estabelece a premissa da série e o tom urgente das cenas de ação. Damon é encontrado quase morto à deriva no meio do oceano. Desmemoriado, ele acaba percebendo que tem uma série de habilidades e está longe de ser um cidadão comum. A direção de Doug Liman é envolvente e Damon começa aqui a mostrar todo seu carisma como estrela hollywoodiana. Apesar dos furos do roteiro, cheio de idas e vindas sem muita explicação, o filme cumpre o papel de apresentar o anti-herói ao público e abrir possibilidades para os capítulos seguintes, que ganharam maior importância e orçamento.
A Supremacia Bourne (2004) – Sai Doug Liman e entra Paul Greengrass na direção dessa continuação que coloca Jason Bourne como um dos principais anti-heróis do cinema atual. O resultado da mudança é um filme de ação ainda mais urgente, ágil e preciso, com ótimas sequências de ação e uma história melhor desenhada, apresentando novas nuanças do passado do espião. O elenco ainda ganha a adição da ótima Joan Allen, e a produção deu a Greengrass poder para realizar o terceiro e melhor episódio da série.
O Ultimato Bourne (2007) – Mesmo com dois bons filmes no currículo, ninguém estava preparado para esse surpreendente terceiro capítulo da série, também dirigido por Paul Greengrass. Com uma ótima edição (vencedora do Oscar), o filme fecha a trilogia com louvor e releva (quase) todos os segredos envolvendo o anti-herói desmemoriado. Além do ritmo e das cenas de ação e perseguição matadoras, o roteiro se sobressai graças a idas e vindas temporais, intercalando e repetindo elementos do segundo capítulo, mostrados agora por uma nova perspectiva. O resultado é um clássico contemporâneo que jogou a série e os filmes de ação em outro nível, encerrando a trilogia original, mas deixando as portas abertas para novas aventuras do personagem.
O Legado Bourne (2012) – Sem Greengrass na direção e Matt Damon, os produtores da série trazem um novo elenco (Edward Norton, Rachel Weisy etc.) em uma história que funciona principalmente porque corre em paralelo aos eventos dos filmes anteriores e apresenta alguns membros do elenco original em pontas (Joan Allen, Albert Finney, David Strathairn etc.). A sacada funciona e a trama é interessante, mas Jeremy Renner não tem o mesmo carisma de Damon e, apesar das ótimas cenas de ação e perseguição dirigidas por Tony Gilron (roteirista dos filmes anteriores), o longa demora demais para engrenar e termina ligeiro e sem o menor impacto.