Um método perigoso

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David Cronenberg já tinha assumido uma postura mais “acadêmica” em seus últimos trabalhos, “Marcas da Violência” e “Senhores do Crime”, para ser mais preciso. Deixando de lado uma narrativa mais intrincada e um apuro estético para o grotesco, o diretor, conhecido por seus filmes esquisitos nos quais pessoas explodem cabeças de outras com o poder da mente ou cientistas se transformam em moscas gigantes, nos últimos filmes, o cineasta apontava para um novo caminho de formalismo mais didático. Os personagens envoltos em violência – física, moral, ética ou psicológica – continuavam fazendo parte do universo de Cronenberg, mas em uma chave mais universal e limpinha que vinha ampliando seu público.

Um Método Perigoso é o ápice desse cinema quadrado adotado pelo cineasta canadense. Fantasiado de filme de época, o longa deixa o espectador vislumbrar uma série de possíveis características do cinema “cronenberguiano” (a violência psicológica, o sexo, os temas tabus), mas a embalagem genérica da produção resulta em uma experiência qualquer nota. Nada no filme realça a trama que envolve Freud, Jung, sexo, uma paciente obcecada por humilhações e o despertar de um novo modo de pensar na psicologia moderna.

Tudo em “Um Método Perigoso” é apático. A produção do filme nunca chama a atenção. E o que poderia ser uma qualidade, a partir do momento em que longas de época costumam apelar ao visual para esconder falhas, acaba sendo um defeito, já que temos a impressão que nada nunca acontece. O roteiro irregular e a direção em terceira pessoa de Cronenberg potencializam mais ainda a fraqueza do trabalho. “Um Método Perigoso” é um desses filmes qualquer coisa. É um Cronenberg para coxinha ver.

Nem o “elenco de sonhos” salva. Se o ator da vez, Michael Fassbender, faz o que pode no papel de um Jung perdido em questões éticas, Viggo Mortensen até empresta certa dignidade a um Freud visivelmente frustrado, mas não vai muito além disso. A única coisa digna de nota no filme é a interpretação exageradíssima de Keira Knightley, que erra feio ao tentar emular o espírito da obra de Cronenberg, entregando uma atuação acima do tom que destoa do resto do longa. Quando o filme chega ao fim, o que fica na nossa lembrança são as mandíbulas da atriz. Muito pouco para um cineasta outrora tão ousado quanto Cronenberg.

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