Lucy tinha tudo para ser uma experiência leve e divertida. Com uma trama absurda (mas com grande potencial para a ação, suspense e entretenimento) e protagonizado por uma das atrizes do momento, a versátil e bela Scarlett Johansson, o novo trabalho de Luc Besson poderia ser um dos grandes filmes da temporada. Mas está longe disso.
O longa começa muito bem. Besson dirige com o pé no acelerador e sem muitas voltas já entrega a história. Mesmo apostando em uma edição bem didática, o cineasta ganha o público pela agilidade com que narra a história de Lucy, garota que se mete em uma roubada e, por conta de um acidente, começa a expandir a capacidade do seu cérebro. Com o carisma de Johansson e uma produção caprichada, o filme parece ganho.
Mas aí começam os problemas de “Lucy”, sendo o menor deles o absurdo da trama. Sim, a história não tem muita lógica, mas vários outros filmes também não têm, e a gente deixa esse detalhe passar batido. A questão no filme de Besson é que as firulas técnicas e narrativas e a afetação do diretor potencializam ainda mais a falta de sentido de um longa que vai se perdendo em uma pretensão desmedida até chegar ao final constrangedor. Besson tenta explicar o inexplicável, deixa a ação em segundo plano para se concentrar em um viés filosófico de quinta e mete os pés pelas mãos.
Scarlett Johansson faz o que pode para segurar a produção e quase consegue. Em poucas cenas, a atriz deixa de ser uma garota normal e assustada para se transformar em uma heroína involuntária bem segura de si. Ela domina a cena e prende a atenção em meio a uma edição hiperbólica e cheia de signos e uma violência exacerbada e gratuita. Pena que os erros de Besson são mais evidentes do que o carisma e talento da estrela. A sorte é que o filme é rápido e indolor, ainda que frustrante. “Lucy” deixa saudades da época em que Luc Besson era um cineasta interessante e fazia longas que iam além de uma bela embalagem.
PS: No quesito “filmes sobre o aumento da capacidade de uso do cérebro”, fique com “Sem Limites” (com Bradley Cooper e Robert DeNiro), que tem um pouquinho mais de lógica (mas não tanto) e menos filosofada do que “Lucy”.