O remake de O Rebu, novela que fez sucesso nos anos 1970, estreou prometendo muito. Com parte da mesma equipe da bem-sucedida “Amores Roubados” e com uma trama que misturava suspense, assassinato, intrigas, corrupção, romance e reviravoltas, a minissérie da Rede Globo começou bem e sem rodeios, com um corpo sendo encontrado em meio a uma festa luxuosa.
Já no primeiro episódio, os personagens foram apresentados, o mistério e o clima, estabelecidos e a ambientação suntuosa deixou sua marca. Mas apenas uma bela embalagem não segura uma minissérie de 36 capítulos. Com uma narrativa estilhaçada que se dividia em três linhas (a festa, a investigação e os flashbacks), “O Rebu” tirou proveito da fotografia e encenação deslumbrantes, mas se perdeu em um vai e vem infinito e, principalmente, na repetição excessiva de cenas.
A estratégia era até válida, já que os muitos capítulos poderiam apagar algumas informações importantes da memória de um público mais acostumado à linearidade das novelas da Globo. Mas as repetições se mostraram apenas um vicio narrativo e quebraram constantemente o fluxo da minissérie, que foi abandonando o tom urgente da primeira semana e virando um marasmo de vários personagens e subtramas desnecessárias (a policial que quer ter um filho, o jornalista esquizofrênico, o marginal de bom coração que só quer salvar a mãe, a filha presa do casal de advogados e por aí vai).
O suposto uso das redes sociais para fazer comentários sobre a história e repercutir ações dos personagens também não funcionou muito bem. O recurso serviu mais para atribuir modernidade à edição do que propriamente acrescentar algo à narrativa, tirando, inclusive, um pouco da credibilidade da investigação policial. O modo leviano como a investigação foi conduzida também não contribuiu a favor. Em nenhum lugar do planeta Terra vários personagens ricos e abastados dariam depoimentos e fariam confissões em conversas corriqueiras e sem a presença de advogados.
Mas “O Rebu” teve os seus méritos. A própria trama não-linear é um deles. Mesmo sem funcionar a contento e muitas vezes desafiando a lógica temporal, só a ousadia em construir dessa forma toda uma minissérie com tantos capítulos e terminar amarrando todas as pontas soltas já são motivos de aplauso. E mesmo que seu desfecho tenha sido um tanto corrido e sem metade do impacto que prometia, o público teve ao menos a chance de presenciar um grande elenco em ação, a principal qualidade da obra.
Se Dira Paes parecia um tanto deslocada, Sophie Charlotte não segurou muito bem a onda e Marcos Palmeiras foi apenas Marcos Palmeira, Tony Ramos, Vera Holtz, Camila Morgado, José de Abreu, Mariana Lima, Daniel de Oliveira e, principalmente, Cássia Kis Magro e Patrícia Pillar fizeram valer todo o alvoroço em torno de “O Rebu”. Em tempos de novelas formulaicas e obsoletas, há de se tirar o chapéu para a iniciativa.