The Homesman – A única chance desse belo e triste filme dirigido por Tommy Lee Jones conseguir estrear nos cinemas comerciais brasileiros é alguma indicação ao Oscar. Mostrando um olhar delicado sobre um tema duro, Jones narra aqui a história de uma mulher que precisa atravessar parte dos Estados Unidos para tentar salvar três outras mulheres da loucura. Sem pressa, Jones apresenta os personagens e deixa a trama seguir um tempo próprio e quase contemplativo, diferente de um western mais tradicional cercado de ação. Apoiado em um bom elenco, uma bela fotografia, direção de arte e trilha sonora, “The Homesman” ganha o espectador aos poucos. Algumas cenas são bem delicadas e, mesmo perdendo um pouco de impacto já no final, o longa se destaca graças a uma atuação melancólica e corajosa de Hilary Swank. A produção merecia melhor sorte do que o quase esquecimento e é um raro exemplar de obra que traz um olhar mais feminino sobre um gênero essencialmente masculino.
Obvious Child – A probabilidade desse filme alternativo estrear por aqui é bem pequena, o que é uma pena. À primeira vista, esse misto de drama independente com comédia romântica parece um genérico do seriado “Girls” ou do cultuado “Frances Ha”, orbitando ali no mesmo universo indie-hipster-artístico de jovens de 20 e muitos que habitam Nova York. Mas o longa da estreante Gillian Robespierre vai bem além desse estereótipo. É um filme que passeia com sutileza e delicadeza sobre um tema bem difícil: o aborto. Donna é uma stand up que leva um pé na bunda e perde o emprego fixo quase em seguida. Entre a pressão dos pais, do mundo e a bebida, ela conhece um estranho totalmente diferente dela e aposta no sexo casual. A química entre a simpática Jenny Slate e o estranho com cara de coxinha Jake Lacy é perfeita, e a direção e o roteiro de Robespierre vão direto ao ponto com precisão. O filme ainda é bem feito e bonito de ver, coisa rara para um gênero que, quase sempre, segue um padrão visual mais genérico. O final é o mais fofo dos fofos.
A Boa Mentira – Nem mesmo a presença da Resee Witherspoon fez com que esse filme cheio de boa intenções chegasse aos cinemas brasileiros. O longa foi parar direto no Netflix, local que parece mais adequado a esse tipo de produção com cara de filme feito para TV. Clichê e bem convencional, “A Boa Mentira” narra a história de um grupo de crianças e jovens que foge da guerra do Sudão e ganha nacionalidade estadudinense. O longa é ou não é baseado em na história real dos chamados “garotos perdidos do Sudão”, nada fica claro. Sem fugir do melodrama, o diretor Phillippe Falardeau aposta no certo e entrega um filme fácil de se ver apoiado no carisma do elenco (formado em sua maioria por refugiados). Mas a força da história se perde um pouco graças ao roteiro esquemático que troca uma dramaticidade mais eficiente pelo dramalhão ligeiro. Witherspoon é apenas coadjuvante.
The Skeleton Twins – De boas intenções e draméticas independentes, o inferno cinematográfico está cheio. Esse misto de comédia e drama não é muito diferente de outras trocentas produções independentes que seguem uma mesma cartilha para lá de batida: personagens losers, trilha sonora melancólica, encenação idem e a boa e velha redenção. Aqui, dois irmãos com tendências suicidas se reencontram depois de 10 anos afastados. Claro que os dois estão com a vida ao avesso e têm que revirar esqueletos do passado e se reconciliar consigo mesmos. Tudo muito certinho, com algumas boas cenas que apontam um olhar delicado do diretor Craig Johnson. Apesar de não ser um longa ruim, tudo é muito convencional e familiar para se destacar em meio a um “gênero” cada vez mais desgastado. Salva-se a química entre Bill Hader e Kristen Wiig.
Frank – O que esperar de um filme sobre uma banda super experimental cujo vocalista e mentor usa o tempo inteiro uma cabeça enorme de papel machê? Pelo menos um longa interessante e original. Infelizmente, o filme de Lenny Abrahamson flerta com a originalidade apenas em sua premissa. Indeciso entre fazer uma comédia musical ou um drama sério sobre problemas mentais, o diretor entrega uma produção que não funciona muito bem e flerta com várias questões sem necessariamente se aprofundar em nenhuma. “Frank” começa como uma ode à paixão pela música, discute o poder das redes sociais e o desejo pelo sucesso, pincela a questão da integridade artística e abandona todos esses temas de maneira insatisfatória. Em meio a tudo isso, ainda desperdiça um ótimo elenco, com destaque para Michael Fassbender e Maggie Gyllenhaal.