30 anos é muito tempo. Nos dias de hoje, quando as coisas parecem ser bem mais efêmeras, 30 anos é quase uma eternidade. 30 anos é o tempo de espera entre a estreia do terceiro filme da série Mad Max e o lançamento da sua continuação. O trailer de Mad Max: Fury Road promete. Novamente com George Miller na cadeira de diretor e com Tom Hardy assumindo o papel que lançou Mel Gibson ao estrelado, a nova produção parece ser violenta e visualmente impactante. A pergunta é: depois de tanto tempo, quem vai se interessar pela retomada de uma série que parece esquecida na memória cinematográfica coletiva?
A verdade é que a série original nunca foi boa e envelheceu muito mal, sofrendo de uma falta de identidade e mudança de tom de episódio para episódio. Nos anos 1980, o cinema de ação era outro. Rever os filmes deixa isso bem evidente. As cenas de ação e perseguição são frouxas, a edição é truncada e a trilha sonora soa esquisita e nada sutil. Maquiagem e efeitos, obviamente, também não funcionam. A violência era bem mais explícita, e o humor não era dos melhores.
No primeiro filme, lançado em 1979, essa precariedade técnica é mais visível. Mad Max narra a trajetória de vingança de um policial que tem a família assassinada por uma gangue de motoqueiros arruaceiros. Mas isso só fica evidente já quase na metade do longa. Mesmo com apenas 90 minutos de duração, George Miller opta por esticar ao máximo o desenvolvimento e a contextualização da trama, comprometendo a vingança que se resolve de maneira bem rápida. A direção do então estreante Miller é quase amadora, e o filme tem toda uma cara de produção B que alcançou o sucesso e conquistou o público no mundo inteiro meio que por acaso.
Lançado dois anos depois, Mad Max: The Road Warrior é narrativamente um pouco melhor resolvido do que o primeiro filme. A continuação abandona a pegada “Desejo de Matar” sob rodas do plot original e joga o anti-herói australiano vivido pelo ainda jovem Mel Gibson em meio a um futuro pós-apocalíptico. A ideia parece um pouco forçada, mas funciona por colocar Gibson com um andarilho solitário que acaba, involuntariamente, ajudando uma comunidade a lutar contra uma gangue de arruaceiro sedentos por combustível. As cenas de ação ainda são filmadas de modo meio mambembe, mas o maior orçamento fica mais visível na direção de arte e uso da trilha sonora, essa um tanto mais sutil do que a utilizada no primeiro longa.
A terceira produção mais uma vez muda de tom e deixa para trás o conceito pregado pelos filmes anteriores. O universo pós-apocalíptico continua, mas a violência é substituída por um tom de aventura infanto-juvenil. Mad Max: Além da Cúpula do Trovão, na verdade, sofre pela falta de coerência. A trama não faz o menor sentido, e os vilões nem chegam a ser vilões. Tina Turner paga um grande mico como dona de uma cidade, e o personagem de Mel Gibson participa da história quase que por acaso.
Depois desse terceiro episódio, Mel Gibson virou um grande astro graças a uma outra série bem melhor resolvida que essa (Máquina Mortífera), e a franquia Mad Max foi deixada de lado. 30 anos depois, Hollywood resolver dar uma nova roupagem à série. O trailer épico promete um grande blockbuster com cenas grandiosas e espetaculares, coisa que os filmes originais nunca tiveram. Com versões em 2D e 3D, a nova produção estreia em maio e pode retomar ou afundar a franquia de vez. Só a bilheteria dirá!