Keira Knightley está longe de ser uma unanimidade. Na verdade, ela é uma dessas atrizes tipo “ame ou odeie”. Mas mesmo quem não gosta dela precisa admitir que a atriz combina muito bem com um determinado tipo de filme, principalmente os de época.
O diretor que melhor soube aproveitar o rosto expressiva e a postura lânguida da atriz foi Joe Wright. Juntos, o cineasta e a atriz fizeram três filmes de época, todos baseados em obras literárias.
O primeiro deles é a estreia de Wright no cinema, mais uma adaptação do romance clássico de Jane Austen, Orgulho & Preconceito. No longa, Keira Knightley é a protagonista Elizabeth Bennet, jovem perdida entre paixões, fofocas e enlaces amorosos na Inglaterra do início do século XIX.
Wright dirige o filme quase como uma comédia romântica, apoiando-se no texto de Austen e em seus comentários sociais. Mas o resultado é menos emblemático do que “Razão & Sensibilidade”, outra adaptação famosa da autora, e mais uma produção leve e divertida sobre as desventuras do amor.
É o trabalho menos cinematográfico do diretor, que mantém-se fiel à obra da escritora e sacrifica o ritmo do longa em virtude da verborragia dos personagens. O elenco, no entanto, se sai muito bem e entende o espírito da adaptação: Keira Knightley recebeu, inclusive, sua primeira indicação ao Oscar pelo papel. Ao lado dela estão Rosamund Pike, Jena Malone, Carey Mulligan, Donald Sutherland, Brenda Blethyn, Kelly Reilly, Simon Woods, Matthew Macfadyen e Judi Dench.
Em seu segundo trabalho e segunda parceria com a atriz, Wright adapta uma obra de um autor menos conhecido, Ian McEwan, e parece bem mais confortável como diretor. O resultado é seu melhor trabalho, o belo e triste Desejo & Reparação.
O primeiro ato do longa beira à perfeição, com Wright apostando em uma câmera ora em constante movimento, ora apaixonada pelos personagens, para apresentar diferentes pontos de vista sobre um mesmo acontecimento. Com a ajuda de uma fotografia estonteante, o diretor compõe ainda belas cenas e enquadramentos (a iluminação da cena da biblioteca é um primor).
Mas o filme não é só uma experiência cinematograficamente rica e com uma produção caprichada. O roteiro é muito bem construído e os personagens bem desenvolvidos (Keira Knightley e James McAvoy estão perfeitos; e Saoirse Ronan quase rouba o longa inteiro para si).
Triste, melancólico e trágico, “Desejo & Reparação” ainda apresenta um dos melhores planos sequência do cinema, uma cena linda e filmada de forma poderosa em uma praia devastada pela guerra.
Depois de duas produções que morreram na praia (o dramão “O Solista” e o filme de ação “Hanna”), Wright retomou a parceria com Keira Knightley em mais um filme de época, a suntuosa adaptação de Anna Karenina, de Leo Tolstoy. É o trabalho mais ousado do diretor, um deslumbre em termos de encenação.
A adaptação joga os protagonistas da tragédia de amor em cenários que remetem a palcos teatrais, e o resultado não poderia ser mais vibrante e cinematográfico. Passado o deslumbre inicial, no entanto, o filme perde força graças ao trio de protagonistas que não funciona e ao roteiro que abre espaço para uma história secundária que é mais envolvente do que a principal.
Perdidos em belíssimos figurinos, os personagens passeiam por cenários de cair o queixo em meio a uma fotografia dos deuses, mas o filme resulta um tanto frio para uma trágica história de amor.
Curiosidade: Além dos filmes dirigidos por Joe Wright, Keira Knightley tem uma extensa lista de produções de época em sua filmografia: o filme para TV “Doutor Jivago”; o equivocado épico “Rei Arthur”; a trilogia de fantasia “Piratas dos Caribe”; o chato “Silk”; o pouco visto e sem grande impacto “Amor Extremo”; o suntuoso “A Duquesa”; “ Um Método Periogoso”, uma de suas piores atuações; e o oscarizado “O jogo da Imitação”.