Vício Inerente

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Saudade de quando Paul Thomas Anderson dirigia clássicos como “Boogie Nights” e “Magnólia”. Desde de “Embriago de Amor”, o diretor abandonou as narrativas em módulo colcha de retalhos e começou a experimentar um cinema menos convencional e mais sensorial e imagético. O resultado são filme bem irregulares, frios e distantes, interessantes em partes, um tanto frustrantes em seu todo (“Sangue Negro” sendo a única exceção).

“Vício Inerente”, novo trabalho do diretor, tenta de alguma forma unir essas duas formas de cinema presentes na obra de Anderson. Temos um elenco enorme que cruza o caminho do detetive particular Doc (Joaquin Phoenix) perdido em um fiapo de história que dá continuidade às experimentações do cineasta.

Baseado na obra homônima de Thomas Pynchon, Vício Inerente é uma grande bagunça. Personagens vão e vem sem muito sentido e falam coisas mais sem sentido ainda. Não li o livro, mas, enquanto filme, a história do detetive que se vê metido em um rolo de desaparecimento, espionagem e tráfico de drogas graças a uma ex-namorada nunca decola.

As razões são várias. Primeiro, Paul Thomas Anderson deixa claro que não está interessado em dar um sentido à coisa toda, tentando emular de certa forma a eterna viagem e o estado letárgico do protagonista. Daí temos cenas e mais cenas desconexas que mais parecem fazer parte das alucinações do detetive em um filme noir às avessas.

A questão é que nem em sua melhor forma Anderson parece estar. Mesmo sendo filmes imperfeitos, “Embriagado de Amor” e “O Mestre”, por exemplo, apelavam para as imagens ou para a construção de certas cenas para atrair a atenção do espectador. Em “Vício Inerente”, o público é abandonado à própria sorte em quase 2h30 de longa.

Anderson exagera nos closes e raras cenas conseguem chamar a atenção audiovisualmente. A trilha sonora é interessante, seguindo a mesma linha dos últimos trabalhos de Anderson em parceria com Jonny Greenwood, músico do Radiohead. Mas só mesmo a atuação de Joaquin Phoenix consegue servir de elo entre o público e a excentricidade exacerbada do filme.

No final das contas, a produção é uma viagem longa, arrastada e chata, de longe o pior trabalho de Paul Thomas Anderson. Sim, mesmo gênios fazem filmes ruins. “Vício Inerente” está aí para provar.

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