Atire a primeira pedra quem nunca mandou ou recebeu uma nude. Para o bem ou para o mal, a prática é um hábito hoje e, sei lá, muitas e muitas e muitas e mais algumas pessoas já sacaram seu smartphone para, pelo menos, tirar uma foto pelado ou sensualizando. Ainda assim, o sexo continua polêmico e é assunto tabu não só entre a tradicional família brasileira. Vide o vídeo de dois caras transando em uma boate que “chocou” a ala hipócrita das redes sociais.
Dito isso, o cinema já explorou diversas vezes o sexo explícito (ou muito bem sugerido) para gerar discussões sobre o assunto. E não estou falando de cinema pornô, mas de filmes de arte que usam paus duros e vaginas molhadas para tirar o público da zona de conforto. O mais recente exemplar desse “gênero” é Love, dirigido pelo polêmico cineasta argentino, radicado na França, Gaspar Noé.
Dono de uma filmografia para lá de controversa, em “Love”, Noé usa o sexo explícito para discutir amor, traição e vazio existencial. Sem o menor pudor, ele filma lindamente e da forma mais plástica possível cenas de sexo entre um casal, um ménage à trois e mesmo uma orgia. Com uma bela fotografia, uma trilha sonora envolvente e uma edição marcante, Noé joga o público em meio a esse “bacanal” filosófico que pode ser extremamente entediante ou belo, a depender do seu estado de espírito.
Por vezes resvalando em um blá-blá-blá chato, o filme quase se torna uma versão melhorada de “9 Canções”, mas Noé compensa a pretensão filosófica com uma bela embalagem audiovisual. E mesmo explorando o sexo explícito e a nudez sem reservas, “Love” é o mais próximo de narrativa convencional e acessível que o cineasta já chegou.
Veja outros exemplares cinematográficos que não tiveram vergonha de explorar o sexo na tela grande:
9 Canções – Dirigido por Michael Winterbottom, “9 Canções” divide sua narrativa em duas linhas bem claras: casal indo ver shows versus casal trepando. Esteticamente bem menos visual do que “Love”, os dois filmes se assemelham na parte chata, filosófica e existencial que cerca a trama de um casal que ora transa, ora se desentende. Sem o menor moralismo, Winterbottom coloca o público no meio das cenas de sexo e das discussões, mas o filme não desenvolve muito sua trama. O diretor utiliza vários trechos de shows de bandas indies famosas (Franz Ferdinand, Elbow, The Dandy Warhols, Black Rebel Motorcicle Club etc) para desviar a atenção do público da pobreza narrativa do longa.
Ninfomaníaca I & II – Esperava-se muito dessa experiência de Lars Von Trier, o cineasta mais polêmico das multidões. A ideia aqui é discorrer sobre a vida de uma mulher viciada em sexo (Stacy Martin e Charlotte Gainsbourg). Apesar de ter várias cenas de sexo e nudez, o diretor está mais preocupado em discutir a condição humana por meio de vários simbolismos e de referências filosóficas que não funcionam muito bem na tela grande. O resultado é um filme, dividido em duas partes bastante irregulares, que é polêmico mais pelo tema do que propriamente por méritos de realização. O destaque do filme é a participação (pequena, mas arrasadora) de Uma Thurman.
Um Estranho no Lago – Esse filme francês estranhíssimo explora menos o sexo explícito e mais os corpos desnudos de homens que se encontram diariamente para praticar pegação ao redor de um lago. Com pirocas balançando para lá e para cá, o cineasta Alain Guiraudie cria um exercício de tensão (bem mais do que de tesão) e discute o poder atrativo da morte em uma trama centrada em um assassinato no lago. A fotografia quase bucólica e solar contrasta com o ambiente cercado de medo e luxúria.
Azul é a Cor mais Quente – A longa cena de sexo entre Adèle e Emma está longe de ser o foco central do filme de Abdellatif Kechiche, mas ela causou polêmica em virtude do seu grafismo. A produção, no entanto, está mais preocupada em discorrer sobre o poder devastador de uma separação. Adèle e Emma se conhecem, se amam e se separam. Em três horas, o diretor passa por essas três fases do relacionamento entre as duas de forma visceral, apaixonante e apaixonada.
Shame – O filme de Steve McQueen não chega a ter sexo explícito propriamente dito, mas o cineasta não se furta de mostrar corpos nus para representar o vazio que domina a vida de dois irmãos unidos por um passado que aparenta ser trágico (apesar de mencioná-lo, nunca sabermos ao certo o que aconteceu na vida dos dois). Brandon (um Michael Fassbender destruído) foge do seu vazio se viciando em sexo, o sexo mais impessoal possível. Sua irmã Sissy (uma Carey Mulligan destruída) foge do seu vazio usando o sexo como forma de encontrar um amor. Ambos se dão mal nesse filme moralista e cinza.