A Colina Escarlate – O maior problema do novo filme do cultuado Guillermo del Toro não é nem a história fraquinha e pouco convincente, mas sim o fato do longa ser uma história de fantasmas por acaso. Vendida como uma produção do subgênero mansão mal assombrada, a trama dos fantasmas é quase pontual no longa, que é, na verdade, um grande novelão gótico rococó. Apesar do pedigree e da tentativa do cineasta em emular/homenagear o cinema de terror de antigamente, o que se sobressai mesmo são os figurinos exagerados e a direção de arte suntuosa.
Enquanto produção de terror, no entanto, o filme pouco funciona. Os sustos são pontuais, e a trama é muito mal desenvolvida. Mesmo del Toro apostando no clima, os poucos sustos não fogem dos clichês do gênero, com os efeitos sonoros e a música fazendo o papel que o roteiro não consegue. O tom gore e cômico do desfecho é outro porém.
O elenco também não convence. Mia Wasikowska não foge do papel da mocinha chata; Tom Hiddleston tenta, mas não foge de sua imagem de cosplay de Michael Fassbender; e Jessica Chastain derrapa em uma atuação extremamente calculada (e, mesmo interpretando uma inglesa, seu sotaque quase não existe). O resultado é um filme visualmente belíssimo, mas completamente vazio.
Beasts of no Nation – A expectativa em relação ao primeiro longa de ficção original do Netflix é grande. Em termos narrativos, a estreia da plataforma nas produções originais cinematográficas (o Netflix já produziu seriados e documentários) é forte, tensa e ousada. O filme narra a trajetória de uma criança abduzida pela guerra em algum país africano. A falta de uma contextualização maior em termos geográfico e temporal, no entanto, atrapalha um pouco o desenvolvimento da trama, extremamente picotada.
Nesse ponto, o talento do cineasta Cary Joji Fukunaga (reponsável pela elogiada primeira temporada de “True Detective”) compensa a falta de um roteiro melhor amarrado, lembrando, muitas vezes, o olhar mais contemplativo e poético de Terrence Malick (“A Árvore da Vida”). O elenco praticamente amador e desconhecido (com exceção do ótimo Idris Elba) também ajuda a gerar empatia em um filme bastante violento que não desvia a câmeras do horror da guerra.
A principal pergunta em relação ao longa é em relação a como a indústria e o público irão receber essa nova forma de consumo que ignora as janelas de distribuição e o conceito de bilheteria e audiência (o Netflix cobra uma mensalidade ou pacote por quantidade de filmes, não por produções específicas, como outras plataformas – Apple TV, VOD ; a plataforma também não divulga números de audiência).
Nos Estados Unidos, o filme estreou em algumas salas de cinema para poder concorrer ao Oscar. Se a produção conseguir alguma indicação (tem chances em ator coadjuvante, roteiro adaptado e fotografia), ela pode abrir caminho para um novo futuro de distribuição de cinema.