As tramas dos X-Men nos quadrinhos sempre foram uma confusão de mortes e ressurreições, viagens no tempo e realidades paralelas. Diante da falta de coerência dos gibis, fica difícil exigir lógica também das versões cinematográficas dos anti-heróis mutantes. Sendo assim, depois de um punhado de filmes com diferentes equipes atuando em várias décadas, a série de longas do X-Men até que mantém certa coesão (não muita) entre abordagens e temas.
Inspirada em um arco de histórias envolvendo um dos maiores vilões da equipe mutante, X-Men: Apocalipse cumpre uma função bem definida: fazer a ponte entre os dois filmes anteriores que deram um reboot na trajetória dos heróis no cinema e as próximas produções dos mutantes, com os membros mais jovens lutando em uma linha temporal anterior a dos longas dos anos 2000.
Ainda que essa pretensão de transição fique evidente em vários momentos e, muitas vezes, prejudique a narrativa com personagens mal aproveitados e pouco desenvolvidos, o filme funciona como uma boa diversão. Parte do sucesso do filme é da direção envolvente de Bryan Singer, responsável pelos melhores filmes do X-Men (em especial “X-Men 2” e Dias de um Futuro Esquecido). O diretor tenta amarrar as muitas tramas com precisão e cria ótimos momentos usando edição paralela, câmeras lentas certeiras e uma trilha sonora ora épica, ora melancólica.
Singer também sabe aproveitar muito bem o seu elenco, outro ponto importante para o sucesso dos mutantes no cinema. Enquanto James McAvoy, Jennifer Lawrence e, principalmente, Michael Fassbender abraçam com carisma e talento seus personagens, Singer apresenta uma ótima nova leva de interpretes, em especial Tye Sheridan e Sophie Turner como Ciclope e Jean Grey. São os atores os responsáveis pelos melhores momentos do longa, ainda que alguns membros do elenco e personagens nunca digam a que vieram (caso do Anjo, Tempestade e Psylocke, reles coadjuvantes, apesar de todos serem muito bem caracterizados).
Diante do carisma dos personagens e atores e da condução firme de Singer, vários elementos equivocados acabam não atrapalhando, caso do vilão sem graça (Oscar Isaac apagado em baixo de uma pesada maquiagem), das soluções fáceis do roteiro e da própria estrutura repetitiva do longa (outra coisa repetida, mas que funciona muito bem, é a cena do Mercúrio, o personagem mais cool dessa nova versão dos heróis).
Então mesmo não sendo um filme perfeito, “X-Men: Apocalipse” é digno, divertido e abre mais um leque de possibilidades para que os produtores continuem explorando os mutantes no cinema. Arcos e histórias, vilões e viagens ao espaço, mortes e novos personagens existem aos montes. Depois de tantos longas incoerentes, já entendemos que esse não é o forte da série, então basta os produtores saberem explorar o carisma dos heróis e criar bons espetáculos narrativos como esse.