A Netflix deixou de ser apenas uma plataforma de disponibilização de conteúdo há tempos. Ela virou uma produtora de conteúdo e criou uma marca de qualidade própria, lançando séries bem sucedidas como “House of Cards”, “Sense8”, “Strange Things” e “Orange is the New Black”, além de filmes como “Beasts of No Nation”, para citar alguns exemplos. Seguindo essa lógica, o serviço de streaming decidiu produzir a sua primeira série nacional: a ficção científica 3%.
Baseada em uma websérie lançada em 2011, a série segue a premissa de várias produções contemporâneas que mostram um futuro distópico. Da mais bem sucedida “Jogos Vorazes” às ruinzinhas “Divergente” e “Maze Runner”, não são poucas as referências da série nacional.
“3%” mostra um futuro em que os jovens que completam 20 anos precisam passar por um processo que os mostra aptos a morar no Maralto, uma sociedade mais justa e sem desigualdades que fica longe do continente sujo e cheio de problemas. O resultado parece uma cópia mal feito da ficção científica hollywoodiana “Elysium”, estrelada por Matt Damon e Wagner Moura.
Mas a falta de originalidade está longe de ser um dos principais problemas da série (apesar da websérie já existir em 2011, antes de todas essas produções citadas, os pilotos eram curtos, deixando claro que os roteiristas foram buscar nas fontes mais óbvias o material para transformá-la em uma série de oito episódios). As situações sem lógica e a sensação de déjà vu permanente se tornam, no entanto, bobagens diante de uma encenação amadora e pobre.
Não existe um único elemento sequer que torne “3%” minimamente decente de ter a marca de qualidade da Netflix. A direção é amadora e o roteiro é simplista, com diálogos sofríveis e situações óbvias que demonstram a total falta de confiança no público. Tudo é mastigado didaticamente como se o espectador (que já deve ter visto dezenas de produções com temática semelhante) não fosse capaz de tirar conclusões sozinho.
E não para por aí. A produção é mambembe (os figurinos e a maquiagem são risíveis) e o elenco está péssimo (nenhum dos atores jovens, nem mesmo os figurantes, parecem ter 20 anos, a idade para participar do Processo, em um exemplo claro de miscasting). E é constrangedor ver bons atores como João Miguel e Bianca Comparato em atuações indignas graças à falta de direção e do péssimo roteiro.
Na falta de dramaturgia e de uma mínima dramaticidade, o que era pra ser tenso vira comédia involuntária. E a suposta crítica político-social que geralmente permeia esse tipo de produção distópica e aqui lança uma discussão sobre a ideia de meritocracia, se perde diante do amadorismo que vira a principal marca da primeira série brasileira da Netflix.
PS: Para não dizer que nada se salva, o 4o episódio é o melhor e mais tenso e mostra um pouco como a série tinha potencial para ser boa.