Em algum momento do novo filme de Damien Chazelle (do ótimo “Whiplash”), Ryan Gosling pergunta para a sua irmã qual o problema em ser romântico. A partir dessa pergunta, La La Land assume para si uma missão: resgatar um idealismo perdido usando como recurso o musical. Chazelle pega então cores quentes, cenários e figurinos “vintages” e a química entre Ryan Gosling e Emma Stone para incensar esse romantismo e, de quebra, homenagear os musicais.
O resultado, porém, está bem longe do hype criado em torno do longa, vendido como a salvação de um gênero que nunca realmente morreu, vide os sucessos recentes de adaptações de musicais da Broadway como “Into the Woods”, “Les Miserables”, “Dreamgirls” e mais outras tantas. O maior mérito de Chazelle é, na verdade, se descolar de uma estética cafona e padronizada das canções orquestradas dessa vertente grandiloqüente e ir buscar inspiração e referências em um outro tipo de musical mais desajeitado.
E “La La Land” é bem isso, um musical desajeitado na forma como coloca Ryan Gosling e Emma Stone para cantar e dançar e na própria maneira de se apropriar de um gênero apenas quando lhe convém. “La La Land” é então um musical de ocasião, tanto que, lá para a metade do filme, parece que Chazelle deixa de lado o deslumbre da encenação inicial para focar na história em si, e o longa mostra todas as suas fraquezas: um roteiro bobo sobre “tudo pode ser, só basta acreditar”, com personagens mal desenvolvidos e que nem como par romântico funcionam (ainda que Gosling e Stone tenham carisma e talento para driblar a real falta de sintonia entre os protagonistas) e com canções e cenas musicais pouco inspiradas e/ou tímidas (a do prólogo é puro exibicionismo técnico e só).
Ele é um pianista apaixonado por jazz e que, apesar de não ter um puto furado, só anda com ternos muito bem cortados (o personagem me lembrou uma versão vendida do protagonista do ótimo “Inside Llewy Davis”). Ela é uma aspirante a atriz que se cansa dos testes de elenco e decide escrever sua própria peça. Em algum momento, os dois se encontram e viram um casal que canta, dança e sapateia entre uma cena e outra até o pequeno grande conflito da produção surgir: eles querem coisas diferentes e é isso.
Resta então ao espectador que não embarcar na onda nostálgica de Chazelle focar no apelo visual do longa com suas cores vibrantes e edição jazzística. Mas, ainda assim, é pouco para um filme que usa as cenas musicais de forma bem pontual e nem sempre com o impacto desejado. Quando a produção parece finalmente desabrochar e emocionar de modo mais honesto (a cena final é realmente tocante), já tarde demais para arrebatar o seu público, e “La La Land” vira um desses filmes cheio de promessas não cumpridas.