Existe uma ideia de que filmes sérios são necessariamente longos. A partir dessa acepção um tanto burra, produções ditas importantes precisam ter mais de duas horas, seja para explorar melhor os temas ou mesmo se aprofundar no tom mais sério e solene.
Essa máxima não é nova, infelizmente. Na década de 1990, por exemplo, vários filmes “importantes” estouraram a duração de duas horas. Alguns realmente sabem como aproveitar de mais tempo de tela, outros nem tanto.
Confira cinco desses (bons) filmes longos lançados nos anos 1990:
Los Angeles. Cidade Proibida (1997). Duração: 2h18 minutos. Hoje um clássico da década de 1990, “Los Angeles. Cidade Proibida” era uma grande incógnita antes de ser lançado. O cinema noir não era um gênero popular há tempos; o cineasta Curtis Hanson nunca tinha feito um filme realmente impressionante; e o elenco da produção era cheio de rostos desconhecidos (Russel Crowe e Guy Pearce, os protagonistas, não passavam de uma aposta). O resultado, porém, é soberbo e um ótimo thriller noir cheio de reviravoltas, conspirações, tiros e pancadas. O longa demora a estabelecer sua trama, o que justifica a duração, e o diretor acerta na dinâmica entre os protagonistas. O resto do elenco, que ainda conta com Kevin Spacey, Kim Basinger, Danny DeVitto, David Strathairn e James Cromwell, se encarrega de transformar o filme em um dos grandes da década, com direito a 9 indicações ao Oscar.
Tempo de Matar (1996). Duração: 2h29 minutos. Os filmes de tribunal estavam para o cinema dos anos 1990 assim com os da Marvel estão para o cinema de hoje. Todos faziam ou queriam fazer. Adaptações das obras de John Grisham, então, eram puro sucesso, cheias de astros e pedigree. Esse “Tempo de Matar” traz um tema revelante até hoje (o racismo), é tenso e “entretém”, o que diz muito para uma produção de 21 anos. Mas não há como negar que o longa tem uma moral bem questionável, ainda que o final de redenção seja o que se espera do cinema hollywoodiano. No mais, o elenco do filme é ótimo e carismático, o que, de certa forma, minimiza os problemas narrativos: o roteiro é maniqueísta de doer e o ar de romance entre Matthew McConaughey e Sandra Bullock é desnecessário e inadequado. As quase 2h30 do longa passam rápido, mas a sensação que fica é que o longa poderia ser mais enxuto e direto ao ponto.
De Olhos Bem Fechados (1999). Duração: 2h39 minutos. Em 1999, Tom Cruise e Nicole Kidman ainda eram O casal, então “De Olhos Bem Fechados” tinha todo um valor agregado por ser estrelado por eles. Quase 20 anos depois, a gente mal lembra que eles estiveram juntos e o filme acaba parecendo então um tanto infantil. Nicole Kidman conta um sonho, Tom Cruise fica com ciúmes e sai pela noite abrindo a carteira pra dizer que é médico à metade do elenco. 2h40 disso é um pouco demais, convenhamos. Mas é Stanley Kubrick, então tudo é divinamente filmado, especialmente as duas cenas de festas, com a câmera sempre colada e seguindo os atores. É um deslumbre. Mas os diálogos são encenados demais e tudo parece teatral, o que, no cinema, não é um elogio. A trama #whitepeopleproblem um tanto conservadora e machista para os dias de hoje também não ajuda. O melhor é mesmo Nicole Kidman, explorando muito bem sua sensualidade. Pena que ela apareça tão pouco e o filme se concentre em Tom Cruise.
Fogo contra Fogo (1995). Duração: 2h50 minutos. Depois de uma série de filmes pouco memoráveis, um dos responsáveis pela série oitentista “Miami Vice”, Michael Mann, mostra nesse épico que é um cineasta de mão cheia, com total controle das cenas de ação e suspense. Vendido como o primeiro encontro real na tela de Robert De Niro e Al Pacino, o filme é, no entanto, correto e perdido em suas intenções. Ao invés de focar no que melhor saber fazer (criar tensão), Mann se perde ao criar um emaranhado de tramas envolvendo os vários personagens do longa, tornando a narrativa arrastada e cheia de dramas não tão interessantes assim. Mas as duas cenas de assalto e a perseguição final são uma aula de cinema e edição. No final das contas, as quase três horas de filme são demais, e De Niro se sai muito melhor que Pacino, no limite do overacting.
Cassino (1995). Duração: 2h58 minutos. Depois de dois ótimos longas (“Os Bons Companheiros” e “A Época do Inocência”), Martin Scorsese entrega um de seus trabalhos mais irregulares. Mais uma vez abordando o universo da Máfia, Scorsese conta uma história real sobre o submundo do crime e dos cassinos de Las Vegas no final da década de 1970. Dividindo a narrativa em duas linhas que se misturam, narradas pelos personagens de Robert De Niro e Joe Pesci, o cineasta, no entanto, erra a mão. Enquanto De Niro está quase apático, Pesci prima pelo exagero, o que desequilibra o longa, que ainda sofre por não ter uma trama mais centrada, e sim uma série de causos que vão se desenrolando até o final. A melhor coisa da produção acaba sendo a atuação de Sharon Stone (indicada ao Oscar). Ela é a única coisa que injeta energia em quase três horas de filme, o que é pouco, já que a personagem é coadjuvante e mal está presente no longa.