Quatro anos depois da ótima primeira temporada de “True Detective”, da HBO, e três depois de dirigir o primeiro grande filme da Netflix, “Beasts of No Nation”, Cary Fukunaga volta à TV com a minissérie “Maniac”, também da Netflix.
A minissérie, na verdade, é uma bagunça narrativa, ecoando uma série de outras produções (“Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, “Inception”, “Ela”, o episódio “San Junipero”, da série “Black Mirror”, são algumas delas) ao misturar realidade, sonhos, robôs, inteligência artificial, futuro, passado, depressão, esquizofrenia, morte e luto em 10 episódios um tanto irregulares.
A partir dessa miscelânea de temas, a minissérie (baseada em uma produção norueguesa) se divide em várias linhas narrativas passadas na realidade e nos sonhos das personagens Owen (Jonah Hill) e Annie (Emma Stone), dois estranhos que se conhecem e desenvolvem uma conexão durante um experimento psicológico.
Na realidade, por motivos distintos, Owen e Annie se voluntariam para participar de um experimento de uma nova droga que promete curar todas as mazelas psicológicas, substituindo, inclusive, a terapia. Na linha narrativa dos sonhos induzidos pelas drogas, Owen e Annie se encontram em diferentes universos que, de certa forma, são construídos e fazem referência à vida real dos dois.
Nessas idas e vindas de realidades distintas que envolvem máfia e cérebros perfurados, tráfico de animais e cabelos oitentistas, elfos e um mundo medieval, agentes da CIA e alienígenas e uma Inteligência Artificial que sofre de depressão, “Maniac” vira uma confusão que nem sempre faz sentido, explora todas suas potencialidades ou cativa o espectador.
A minissérie também demora a engrenar, e o plot leva alguns episódios para revelar seu real propósito, o que pode incomodar ainda mais o espectador médio. Mas Cary Fukunaga cria uma bizarrice narrativa bastante bonita de se ver, com fotografia, direção de arte (que lembra a mise-en-scène vintage de um Michel Gondry) e edição de primeira (assim como “True Detective”, “Maniac” tem um plano-sequência de cair o queixo).
Apesar de visualmente interessante, o destaque são os episódios que apelam para emocional ao focar de modo mais direto a história de sofrimento e perda da personagem Annie (uma ótima Emma Stone). É nessa hora que a minissérie deixa de lado as falhas narrativas e cria uma ligação com espectador. De qualquer forma, a produção é um sopro de originalidade diante de um mar de mediocridade do conteúdo original Netflix.