Ao contrário da amiga Nicole Kidman, a carreira da australiana Naomi Watts nunca realmente deslanchou, e a atriz não alcançou o mesmo status de sucesso junto ao público e crítica. Ainda assim, Watts tem provado sua versatilidade ao longo de mais de trinta anos na frente das câmeras.
Depois de anos e mais anos estrelando produções pouco vistas, Naomi Watts finalmente foi notada em “Cidade dos Sonhos”, produção de David Lynch. Na verdade, o filme seria uma série de TV. Mas depois que o piloto foi rejeitado, Lynch filmou mais cenas e montou o que tinha como um longa-metragem. O resultado rendeu um indicação ao Oscar de direção ao cineasta e notoriedade à atriz, colocando seu nome na mira de outros bons papéis.
O resto é história. Entre boas atuações em filmes bem recebidos pela crítica e sucessos populares como o terror “O Chamado”, Watts cometeu também muitos erros (“A Casa dos Sonhos”, “Diana”, “Para Maiores”, “Mar de Árvores” e a terrível série “Gypsy”, da Netflix). em uma carreira cheia de altos e baixos.
De qualquer forma, Naomi Watts não tem medo de se arriscar e quase sempre é a melhor coisa dos filmes em que está envolvida, tendo trabalhado com grandes diretores como Woody Allen, Peter Jackson, Clint Eastwood, Michael Haneke, David Cronenberg, entre outros.
Cidade dos Sonhos (2001) – À primeira vista, pouco faz sentido nesse belo delírio de David Lynch. Mas o cineasta tem tudo sobre controle mesmo que, para o espectador médio, a história termine sem pé nem cabeça. Independente de se gostar ou não desse exercício narrativo cheio de estilo, Naomi Watts é apresentada ao mundo entregando uma de suas melhores atuações, misturando êxtase, ingenuidade, decepção e raiva. A virada da personagem não é só surpreendente por causa das mudanças nos rumos da trama, mas pela virada emocional que a atriz dá diante das câmeras. Depois de anos em papéis menores ou sem destaque, Watts agarrou a oportunidade e mudou aqui a trajetória de sua carreira.
21 Gramas (2003) – Depois de receber vários louros da crítica por “Cidade dos Sonhos” e ser ignorada pelo Oscar, Naomi Watts recebeu sua primeira indicação ao prêmio por esse drama da chamada “trilogia do caos” do cineasta Alejandro G. Iñárritu. Seguindo a mesma lógica do anterior “Amores Brutos”, o diretor embaralha sua história em um vai e vem de informações até finalmente revelar o motivo da dor e comportamento autodestrutivo da personagem de Watts. Além da ótima atuação da atriz, o longa ainda conta com Sean Penn e Benicio Del Toro em um filme difícil e depressivo.
King Kong – Em 2005, esse era um dos blockbusters a serem assistidos. Treze anos depois, os efeitos especiais não envelheceram nada bem. O roteiro estúpido e a direção megalomaníaca de Peter Jackson também não ajudam. Mas uma coisa permanece intacta: a ótima atuação de Naomi Watts, que entende o tom do longa e entrega uma interpretação no limiar da caricatura. Ela é o elemento perfeito para justificar a paixão do macaco Kong e ajudar o espectador a aguentar as desnecessárias três horas de duração.
O Despertar de uma Paixão (2006) – Naomi Watts é uma mulher aparentemente à frente do seu tempo que se casa com o almofadinha Edward Norton por um capricho e se vê entediada na China ao lado dele. Depois de traí-lo, ela é punida pelo marido e acaba em uma vila que está passando por uma epidemia de cólera no interior do país. Watts e Norton estão em suas melhores formas como um casal que acaba se apaixonando graças à prisão das convenções sociais. Além das ótimas interpretações dos dois atores, o longa se beneficia pelo que há de melhor nos dramas de época: encenação e textos polidos, trilha sonora, direção de arte, fotografia e figurinos de encher os olhos e ouvidos. Infelizmente, o filme teve um lançamento discreto e foi bem pouco visto.
O Impossível (2012) – Naomi Watts usa seu rosto expressivo para transformar esse exemplar do cinema catástrofe em um filme emocionante e de causar calafrios. Sentimos a dor física e os cortes que sua personagem sofre. Pelo esforço, a atriz recebeu sua segunda indicação ao Oscar. O diretor espanhol Juan Antoio Bayona (“O Orfanato”) foge dos clichês de filmes cheios de efeitos especiais, com fiapo de trama e interpretações rasas para dar estofo à história real de uma família que sobreviveu à tragédia do tsunami que devastou a Indonésia deixando mais de 230 mil mortos em 2004. O resultado é um misto de desespero e esperança.