Oscar 2019: minha ordem de preferência na categoria Melhor Filme

Um filme de super-herói da Marvel, uma produção lançada pela Netflix, um longa do Spike Lee e outro do grego Yorgos Lanthimos. Entre vários pioneirismos e boas escolhas, o Oscar desse ano ainda tem espaço para os filmes irregulares de sempre e o velho mais do mesmo com a repetição preguiçosa dos mesmos nomes de outras premiações. Eis a minha ordem crescente de preferência dos indicados desse ano:

Green Book – O Guia – O novo filme de Peter Farrelly é a cara do Oscar… de 1990. O diretor deixa a verve subversiva de “Debi & Lóide” e “Quem Vai Ficar com Mary” de lado e aposta em no “pau molismo” para falar sobre racismo e não ofender ninguém. O resultado é esquemático e simplista e só se salva da completa mediocridade graças ao empenho de seus atores (Viggo Mortensen e Mahershala Ali). Em um ano com tantas produções relevantes sobre o tema (“Sorry to Bother You” e “The Hate You Give”, entre outras), chega a ser vergonhoso ver um filme tão pálido entre os indicados.

ViceAdam McKay se acha muito esperto, mas mal sabe ele que seus roteiros e direção/edição deslocados nada mais são do que uma cópia do que Guel Arraes já fazia lá nos anos 1990. Com um tema importante e uma pegada liberal (a cena final é realmente “engraçada”), o longa não se salva da mão pesada de McKay, que transforma os 130 e tantos minutos do longa quase em uma tortura (ainda que a demonização dos personagens ajude a produção a ter fôlego). Christian Bale super atua e está à beira da caricatura, já Amy Adams e Sam Rockwell não têm muito o que fazer a não ser emprestar prestígio ao filme.

Bohemian Rapsody – A cinebiografia de Freddie Mercury (Rami Malik todo trabalhado na imitação) entrega exatamente o que o trailer prometia: um filme cheio de problemas narrativos, sem muito foco e com dramaticidade de melodrama barato. Salvam-se a música do Queen e a edição das cenas musicais, que são utilizadas para compensar a falta de desenvolvimento e os diálogos cafonas. Funciona e emociona, mas está longe de ser bom cinema.

Nasce uma EstrelaBradley Cooper estreia na direção provando que é um ótimo ator. Ele está realmente muito bem como um astro country alcoólatra e depressivo. Mas sua atuação não compensa o roteiro que é uma bagunça ou a edição truncada que acaba com toda a dramaticidade do filme. Lady Gaga não passa vergonha em sua estreia no cinema, mas sua personagem é mal desenvolvida  e só existe em função dos machos da história (o longa mesmo é sobre Cooper e não a ascensão da moça ao estrelato).  O fato de a produção romantizar um relacionamento com ecos abusivos também não pega bem.

Pantera Negra – É bonito ver personagens negros sendo tratados como gente de verdade e sem estereótipos ridículos, ainda mais em um grande blockbuster de sucesso. Mas a verdade é que à parte a questão da representatividade (o seu grande mérito), o longa é apenas mais um na engrenagem da Marvel. O bom elenco, a direção de arte, figurinos e trilha sonora se destacam, mas os efeitos especiais deixam a desejar nesse que é o lançamento mais “importante” do ano passado.

Infiltrado na Klan – Depois de um longo inverno de filmes ruins e/ou irrelevantes, Spike Lee volta à boa forma nessa comédia ácida em que um policial negro se infiltra na Ku Klux Klan. Baseado em fatos reais e todo trabalhado na estética blacksploitation, o cineasta usa o bom elenco e edição para fazer o que sabe melhor: provocar e mostrar a hipocrisia da América branca. Em tempos difíceis em que, infelizmente, ser racista deixou de ser uma vergonha, o longa ainda termina de forma poderosa com imagens que são um soco de desesperança no estômago.

A Favorita – Difícil imaginar o Yorgos Lanthimos fazendo um filme convencional. Esse aqui até tenta ser, parecendo flertar com o grande público ao abraçar o gênero dos filmes de época. Mas não se enganem, estamos falando do mesmo diretor de “Dentes Caninos”, “O Lagosta” e “O Sacríficio do Cervo Sagrado”. A primeira metade desse aqui é brilhante, com um texto afiado entregue nas mãos de três ótimas atrizes (Emma Stone, Rachel Weisz e Olivia Colman) e uma encenação deslumbrante que grita estética na cara do espectador. O longa, no entanto, troca a farsa e os diálogos espirituosos por um tom mais agridoce na metade final e perde um pouco de força ao se alongar demais nas tramóias politicas. Ainda assim, é uma belíssima introdução ao público médio de um diretor nada fácil.

Roma – Quem já assistiu a “E Tua Mãe Também” e “Filhos da Esperança” sabe que Alfonso Cuarón é um dos deuses do cinema atual. Nessa produção original da Netflix, o cineasta usa todo seu esmero estético e técnico para criar seu filme mais pessoal. A trama é quase inexistente. Em meio a lindos travellings e panorâmicas, acompanhamos a trajetória de Cleo, uma empregada de família classe média no turbulento México do começo dos anos 70. A opção por deixar a história em segundo plano para priorizar o contemplativo vai desagradar aquele público educado à base de novelas e filmes de super-heróis. Mas quem sobreviver ao ritmo lento e a falta de trama vai ver uma das produções mais belas do cinema recente.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s