Outro dia a internet jogou na minha cara que “Quatro Casamentos e um Funeral”, uma das minhas comédias românticas preferidas, completa 25 anos em 2019. Como fiz uma listagem com meus filmes preferidos que completam 20 anos em 2019, resolvi fazer o mesmo com os lançamentos do já distante 1994 (um ano bem bom pro cinema, aliás).
Entrevista com Vampiro – Vi o filme no finado Cine Diogo, no centrão de Fortaleza, e já gostei antes mesmo de assisti-lo graças ao elenco masculino mais desejado da 1ª metade dos anos 1990 (Tom Cruise, Brad Pitt, Antonio Banderas e Christian Slater) e a encenação suntuosa e afetada cortesia do diretor Neil Jordan. Operístico e bem gay, o longa ainda ganha pontos pela abordagem existencial e melancólica dada à vida dos vampiros e por ter apresentado Kirsten Dunst ao mundo.
Frankenstein de Mary Shelly – Lançada na carona do maravilhoso “Drácula de Bram Stoker”, essa versão de Kenneth Branagh (bem malhadinho e todo padrãozinho) para a clássica história de terror foi apedrejada pela crítica, principalmente pela direção gritada do cineasta inglês (a câmera não para um minuto). Eu amei e ainda amo justamente pelo tom operístico e exagerado, com direito a atuações histéricas em meio uma encenação luxuosa. O maior defeito da produção, pra mim, é mesmo a atuação de Robert DeNiro (totalmente deslocado) como o monstro e a total falta de terror.
Quatro Casamentos e um Funeral – Comédias românticas não são conhecidas por fugir da fórmula, então esse é um dos maiores méritos dessa produção que aposta na subversão. O diretor Mike Newell e o roteirista Richard Curtis deixam o conservadorismo de lado e resolvem inovar o desmitificar o casamento e juntar os dois protagonistas (um charmoso Hugh Grant e uma bela Andie MacDowell soltando faíscas) sem que eles se casem no final (na verdade, eles fazem juras de amor e prometem nunca se casar). De quebra, o longa ainda inverte os papéis e transforma Grant em um bobo um tanto romântico enquanto Andie MacDowell vive uma mulher mais liberal e pé no chão.
Almas Gêmeas – Esse aqui mereceria estar na lista pelo simples fato de ter apresentado ao mundo a atriz Kate Winslet. Como se isso não fosse suficiente, o longa também ampliou o público de um tal Peter Jackson, cineasta que mistura aqui fantasia e realidade para contar uma história de duas amigas que têm uma relação obsessiva e matam os pais que as querem separar. Foi indicado ao Oscar de roteiro original.
Assassinos por Natureza – Não é todo filme que envelhece bem 25 anos, caso desse exercício estilístico de pretensão dirigido por um Oliver Stone todo trabalhado no ácido. Misturando diferentes linguagens e formatos, o filme (baseado em um roteiro de um ainda desconhecido Quentin Tarantino) abusa de filtros, animação, edição de videoclipe e violência para narrar a história de um casal de serial killers alçado à categoria de heróis. Apesar da trama ainda ser atual, a produção é datada e só funciona como cápsula do tempo para os anos 1990.
Velocidade Máxima – Lançado como um “Duro de Matar” em um ônibus, o longa se tornou um fenômeno, transformou Keanu Reeves (bem gostosinho) em um herói de ação antes mesmo de “Matrix” e revelou ao mundo o carisma da já miss simpatia Sandra Bullock. Estreia de Jan De Bont na direção, a produção tem um ritmo tenso e vertiginoso e funciona muito bem até hoje, sobrevivendo com louvor ao roteiro genérico e cheio de buracos.
Pulp Fiction – Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, “Pulp Fiction” talvez seja um dos filmes mais influentes da década de 1990 graças ao roteiro e direção de Quentin Tarantino, que transforma violência em algo pop ao embaralhar a trama e jogar referências obscuras na cara do público mainstream. De quebra, o longa mudou o cinema independente e consolidou de vez o poderio da Miramax, além de salvar a carreira de John Travolta e dar as únicas indicações ao Oscar de Uma Thurman e Samuel L. Jackson.
Caindo na Real – A trama não é nada nova: os conflitos de jovens chegando à vida adulta. Mas o elenco (Winona Ryder, Ethan Hawke e seu cabelo oleoso, Jeneane Garafalo, Steve Zahn e um, na época, bonito Ben Stiller) e a roupagem “MTV” dão charme e vida aos dramas de uma geração que ficou perdida entre os yuppies e os millenials. O longa pincela várias questões desde a expectativas e frustrações profissionais à identidades e romances mal resolvidos e virou marca registrada dos jovens dos anos 1990. No fundo, é uma comédia romântica com uma pegada grunge e ótima trilha sonora.
Priscilla, a Rainha do Deserto – Muito antes do reality show Ru Paul´s Drag Race existir, o diretor Stephan Elliott deu ao mundo esse road movie em que três drag queens se aventuram pelo árido interior australiano. Um ainda desconhecido Hugo Weaving, um padrãozíssimo Guy Pearce e um maravilhoso Terence Stamp se divertem e muito em um longa que ainda abre espaço para comentários sociais sobre homofobia, transexualidade, Aids, abuso infantil e solidão com humor e melancolia. Em uma dessas coisas raras, levou (merecidamente) o Oscar de melhor figurino.
Um Sonho de Liberdade – Existe uma série de razões para um filme ser um clássico. Esse longa de Frank Darabont cumpre vários dos requisitos: uma produção impecável e um elenco afinado (em especial Morgan Freeman e Tim Robbins) e carismático, por exemplo. Mas talvez seu maior trunfo seja um senso de atemporalidade que mantém o seu frescor narrativo mesmo 25 anos depois do seu lançamento. Talvez o filme sucumba a um olhar mais politicamente correto tão comum aos dias de hoje, mas há uma melancolia atrelada à abordagem e uma paixão pelos personagens que minimizam o tom por vezes maniqueísta.
True Lies – Um dos filmes menos lembrados da filmografia de James Cameron, esse aqui é uma ótima comédia de ação dona de uma trama pra lá de implausível e de cenas de ação que exigem muita suspensão de descrença por parte do espectador. Ainda assim, a química entre Arnold Schwarzenegger e uma espirituosa Jamie Lee Curtis compensam o roteiro e a encenação delirante de Cameron. 25 anos depois, o longa perde um pouco de gás por causa da edição que nem sempre funciona (em vários momentos dá pra perceber que não é Schwarzenegger que está em cena, e sim um dublê), o que tira um pouco da força da produção.
PS: Eu já era um quase “adulto” em 1994, então quando vi “O Rei Leão” um pouco tempo depois, a animação não me cativou muito. Outros filmes lançados no ano: o maravilhoso “Amores Expressos”, de Wong Kar-Wai ; o indicado ao Oscar “Quiz Show”; o suspense de tribunal “O Cliente”; a reunião de Jack Nicholson e Michelle Pfeiffer em “Lobo”; o oscarizado “Forrest Gump : O Contador de Histórias”; uma nova adaptação de “Adoráveis Mulheres”; um dos melhores Tim Burton em “Ed Wood”; “Tiros na Broadway”, de Woody Allen; “As Loucuras do Rei George” e a primeira indicação ao Oscar de Helen Mirren.
E mais: o francês “A Rainha Margot”; o nascimento de Cameron Diaz em “O Máscara”; um Arnold Schwarzenegger grávido em “Junior”; a ótima comédia (me julguem) “Debi & Lóide”; Natalie Portman sendo revelada em “O Profissional”; o sombrio e trágico “O Corvo”; a comédia australiana “O Casamento de Muriel” (que deu Toni Collette ao mundo); os irmãos Cohen bem afetados em “Na Roda da Fortuna”; Michael Douglas assediando Demi Moore em “Assédio Sexual”; e o épico água com açúcar “Lendas da Paixão”.