Emma Thompson poderia ser uma dessas grandes atrizes que só faz adaptações literárias e filmes “importantes”. Mas, em algum momento, ela conseguiu se desvencilhar da imagem de atriz shakespeariana e de produções de época para se arriscar em blockbusters e franquias (como nos filmes do “Harry Potter” ou na série “Homens de Preto”).
A atriz chega então aos 60 anos em 2019 (ela nasceu no dia 15 de abril de 1959) com uma carreia eclética de papéis variados em filmes de prestígio e produções mais água com açúcar como “Júnior”, no qual faz par com Arnold Schwarzenegger, ou comédias românticas como “Simplesmente Amor”.
Como é normal em Hollywood, a atriz perdeu um pouco de espaço com o passar do tempo e a chegada da idade, aparecendo mais em papéis coadjuvantes e menos em produções que lhe deram personagens importantes (seus últimos trabalhos marcantes foram “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”, em que, por pouco, não ganhou mais indicação ao Oscar; e o pouco visto “Um Ato de Esperança”). Mas, ainda assim, ela nunca parou de trabalhar e tem mais de 80 créditos em filmes e séries.
Eis meus seis filmes preferidos da atriz:

Em “Voltar a Morrer”, Emma Thompson vive uma mulher que passa a ter pesadelos com uma morte que pode estar relacionada com sua vida passada
Voltar a Morrer (Dead Again, 1991). Depois de trabalhar na estreia de Kenneth Branagh como diretor de cinema em “Henrique V”, Thompson retomou a parceria com o então companheiro nesse suspense que segue os passos do mestre Hitchcock. Thompson e Branagh estão perfeitos como um homem e uma mulher que viveram uma tragédia em uma vida passada. A trama tem furos, mas as reviravoltas e a direção histérica de cineasta inglês, além da química entre os atores, mantêm o interesse no longa.

Emma Thompson ganhou o Oscar logo em sua primeira indicação ao prêmio pelo filme de época “O Retorno a Howard´s End”
O Retorno a Howard’s End (Howard’s End, 1992). Emma Thompson ainda não era conhecida do grande público em 1992, aparecendo apenas como quarto nome nos créditos dessa produção renomada do diretor James Ivory que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz e lhe abriu as portas de Hollywood. O longa tem a cara do prêmio no anos 1990, quando produções de época baseadas em livros clássicos eram automaticamente indicadas ao prêmio (foram nove ao todo e três prêmios para esse aqui: atriz, roteiro adaptado e direção de arte). Apesar de ser um filme de época, o longa é bem atual e ressonante em relação ao tratamento que dá à questão de disparidade de classes, tendo, aqui, a disputa de uma casa como foco central.

Um ano depois de “O Retorno a Howard´s End”, Emma Thompson voltou a atuar com Anthony Hopkins em outro drama de época, “Vestígios do Dia”
Vestígios do Dia (The Remains of the Day, 1993). Um ano depois de “O Retorno a Howard´s End”, Thompson repete aqui a parceria com o diretor James Ivory e com Anthony Hopkins nessa outra prestigiada adaptação literária que recebeu oito indicações ao Oscar. A atriz tem um papel menos proeminente e versátil do que no anterior, mas ainda assim demonstra porque foi uma das atrizes preferidas pelo prêmio na primeira metade dos anos 1990. Pena que o longa está mais focado no personagem de Hopkins, adotando um tom mais frio e distante ao narrar a história de um mordomo que cuida de uma mansão e nutre uma paixão contida pela governanta da casa.

“Muito Barulho por Nada” marcou a quarta e última colaboração entre a atriz e o então marido, o ator e diretor Kenneth Branagh
Muito Barulho por Nada (1993) – 1993 foi um bom ano para Emma Thompson. Além de ser indicada a dois Oscar (por “Em Nome do Pai” e “Vestígios do Dia”), a atriz protagonizou essa deliciosa adaptação de um texto de Shakespeare. O texto, claro, é datado e hermético, mas Kenneth Branagh dirige tudo com leveza, criando uma encenação solar e divertida. Com um elenco bem eclético a cara dos anos 1990, a atriz se destaca com uma atuação verborrágica e cortante, mas cheia de carisma.

Kate Winslet e Emma Thompson em “Razão & Sensibilidade”, filme que rendeu o Oscar de roteiro adaptado à atriz
Razão e Sensibilidade (1995) – Além de ser uma das melhores atrizes de sua geração, Emma Thompson ainda revelou ser uma ótima roteirista nessa que é uma das melhores adaptações da obra de Jane Austen. O longa marca a estreia do maravilhoso Ang Lee na direção de uma produção em língua inglesa e traz um texto ágil e divertido defendido por um belo elenco, em especial Thompson e uma novinha Kate Winslet. Quase 25 anos depois do seu lançamento, o longa envelheceu muito bem.
Mais Estranho que a Ficção (Strager Than Fiction, 2006). Esse ótimo filme representa muito bem o que Hollywood reversou para Emma Thompson depois que a atriz passou dos 40 anos: papéis menores em produções bem variadas. Nele, a atriz interpreta uma escritora que sofre um bloqueio criativo ao escrever um livro que retrata a vida de uma pessoa que realmente existe e passa a ouvi-la narrando sua vida. O roteiro esperto nunca explica o porquê da escritora e o personagem de Will Ferrell terem uma ligação e está mais preocupado em explorar temas como arte, cotidiano, rotina e o vazio da existência, tudo com uma pegada indie e uma trilha sonora bem melancólica.