Orange is the New Black

Acabei “Orange is the New Black”. Depois de patinar nas últimas temporadas, colocando a própria relevância da série na berlinda, um dos primeiros conteúdos originais da Netflix chegou ao fim dando a volta por cima em sua sétima temporada.

Mais até do que “House of Cards” (que surgiu no mesmo ano), “Orange is the New Black” provou que a Netflix poderia produzir conteúdo original de sucesso e deixar de ser apenas uma mera plataforma de exibição de filmes e séries dos outros. O programa começou bem e deu voz a personagens marginais nunca antes representados sem estereótipos na TV: mulheres negras, latinas e imigrantes de baixa renda cujo único futuro, de acordo com a visão da sociedade neoliberal, é o caminho do crime.

O primeiro acerto da série foi, justamente, entender que os dramas dessas presidiárias eram muito mais empáticas e reais do que o vivido por Piper (Taylor Schilling), a protagonista branca, mimada e chatinha que vira presidiária por causa de uma paixão. Com o desenrolar da série, o romance de Piper com Alex e o comportamento por vezes insuportável da protagonista viraram coadjuvantes e abriram espaço para tramas mais humanas e interessantes de personagens como Red, Taystee, Crazy Eyes, Mendonza, Cindy, Blanca e por aí vai.

Por outro lado, “Orange is the New Black” sofreu por causa de sua própria pretensão, com episódios longos demais que prejudicavam (e muito) a mistura de comédia e drama e o ritmo da atração. O fato de toda a trama se passar em uma prisão (ainda que os flashbacks à la “Lost” tentassem contornar essa amarra narrativa) também se transformou no calcanhar de Aquiles da série, que se tornou cansativa e repetitiva, deixando claro já em suas mais recentes temporadas (a 5ª e 6ª, principalmente) que o programa não tinha mais para onde ir.

Eis que essa sétima e última temporada chegou então como um alívio, apresentando uma nova abordagem que não só salva a série da repetição como a torna ainda mais atual ao refletir sobre um dos grandes problemas do mundo de hoje. A questão da imigração ganhou protagonismo, deu visibilidade a personagens invisíveis e humanizou tantos outros pelo caminho (basta uma cena para a ex-diretora Natalie Figueroa mostrar que tem um lado sensível). O resultado é, por vezes, desesperançoso e devastador porque aponta que não há lugar no mundo para essas mulheres.

Ao mesmo tempo, tentando dar uma volta na história da protagonista, a última temporada mostrou a readaptação de Piper à sociedade. Para a infelicidade da série, mesmo fora da prisão, ela continuou desinteressante, insuportável e ocupando o espaço de outras personagens bem mais complexas que, mesmo sem precisar lidar com a questão da deportação, sofreram com a falta de perspectiva, a loucura, a própria velhice ou uma vida inteira na prisão.

Com um desfecho cheio de despedidas e algumas lágrimas, a série que colocou a Netflix no mapa das premiações conseguiu amarrar muito bem todas as tramas de forma delicada e melancólica, mesclando finais tristes e alegres e resgatando algumas personagens que estavam sumidas do programa. Acabou “Orange is the New Black”.

 

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