
Não sou fã do Martin McDonagh. Acho “Na Mira do Chefe” apenas um filme ok, não gosto de “Sete Psicopatas e um Shih Tzu” e “Três Anúncios para um Crime” só se salva por causa da atuação (vencedora do Oscar) de Frances McDormand. Mesmo com toda a aclamação e nove indicações ao Oscar, não esperava muito de “Os Banshees de Inisherin” tanto pelo diretor/roteirista quando pela premissa que parece bem sem sentido. Mas, por incrível que pareça, gostei do filme.
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Na Irlanda do começo do século XX, dois melhores amigos se afastam sem nenhuma razão, o que deixa um deles surpreso. Sem muito rodeios, é a partir daí que “Os Banshees de Inisherin” se desenvolve, usando essa trama sobre uma amizade desfeita para refletir sobre nossa dependência e fragilidade diante do outro.
Pádraic não se conforma diante da rispidez de Colm, seu melhor amigo até o dia anterior, já Colm parece firme em sua decisão de cortar relações com o ex-amigo, ainda que por um motivo aparentemente bobo. Enquanto este prega o desapego, Pádraic sucumbe ao desespero, o que ajuda ao filme tomar rumos inesperados e pouco críveis.
Mas Martin McDonagh não parece preocupado em entregar um filme lógico e com um desfecho óbvio, preferindo usar a história do conflito entre os dois amigos como uma metáfora para doenças mentais enquanto usa pinceladas de contexto político e social para ambientar a trama (mais precisamente a guerra civil irlandesa que dividiu o país na década de 1920).

Com diálogos afiados e atores que carregam no sotaque irlandês, o longa é simpático, ainda que desvale para o absurdo e a violência, aqui de uma forma bem menos agressiva do que nos trabalhos anteriores de McDonagh. Além do texto enxuto que contribui para o ritmo da produção, o grande mérito de “Os Banshees de Inisherin” é mesmo seu elenco, com destaque para as interpretações melancólicas de Kerry Condon e Barry Keoghan, que dividem a melhor cena do longa à beira de um lago.
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Repetindo a parceria de “Na Mira do Chefe”, Colin Farrell e Brendan Gleeson também estão bem, mas a própria natureza dos dosi amigos parece um pouco irritante, principalmente porque os dois agem como crianças em prol da premissa do filme. Mas, mesmo fácil de assistir e gostar, nove indicações ao Oscar parecem exagero (filme, direção, ator, dois atores coadjuvantes, atriz coadjuvante, roteiro original, edição e trilha sonora).
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