Tár

Pode soar clichê, mas “Tár” não é um filme fácil. Depois de filmar dois renomados dramas que fizeram sucesso no começo dos anos 2000 (“Entre Quatro Paredes” e “Pecados Íntimos”), Todd Field deixa um pouco de lado o apego à narrativa e mergulha em um longo estudo sobre a personagem central de seu filme, uma “maestra” que conduz uma orquestra em Berlim com mãos de ferro e obsessão pelas notas perfeitas.

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Com um rigor estético inédito em sua carreira, o cineasta compensa os dezesseis anos afastado detrás das câmeras com uma produção que é um capricho visual e narrativo, com cenas tão bem orquestradas quanto as partituras da protagonista Lydia Tár. Esse esmero esbarra, no entanto, com um texto um tanto pedante, ainda que este reflita exatamente a postura de Tár em sua vida pessoal e profissional.

“Tár” começa com a maestra em Nova York, participando de uma entrevista para um jornal. Todd Field deixa a cena correr solta, com a personagem mostrando pinceladas de seu comportamento um tanto calculado enquanto desfila conhecimento sobre arte e música. A cena seguinte, a mais impressionante do longa, revela ainda mais sobre a dureza dessa mulher durante uma aula em uma das melhores escolas de música do mundo. Sem pudores, Lydia passeia pela sala (em um plano sequência de cair o queixo) e destrói sem pena as certezas dos jovens alunos.

A partir dessas cenas, Todd Field mergulha ainda mais na conduta ética da personagem, mesmo não se apegando às convenções de um cinema mais comercial. Por meio do olhar de outras personagens, a assistente de Lydia, sua esposa e uma nova aluna, o roteiro deixa claro que a maestra não é a heroína de sua própria história, centrando a trama no comportamento predador da personagem, em especial após o suicídio de uma ex-integrante da orquestra.

Refletindo sobre a cultura do cancelamento e as relações de poder tanto no trabalho quanto na vida pessoal, “Tár” funciona quase como um panfleto de um #metoo reverso, apostando que não são apenas os homens que tiram vantagens de suas posições sociais. O longa, no entanto, está mais preocupado em desvendar as intenções de Lydia Tár do que propriamente apontar culpados sobre assédio e cancelamento.

No centro dessa narrativa por vezes distante e fria, Cate Blanchett reina absoluta ora focando na dureza da personagem, ora revelando indícios de fraqueza com pitadas de insegurança disrfaçados por trás de uma máscara rígida de poder. É particularmente interessante, por exemplo, como a personagem parece não se dar conta de que todos ao seu redor estão cientes de suas estratégias e parecem ignorá-las apenas porque, dentro da lógica do sistema, eles não têm nada a ganhar criando um conflito com a maestra.

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Lindamente filmado e indicado a seis Oscar (filme, direção, atriz, roteiro original, edição e fotografia), “Tár” é um longa que não tem medo de arriscar, ainda que essa ousadia possa desagradar boa parte do público que vai acha-lo chato e pretensioso. Ainda assim, a produção é uma bela experiência cinematográfica, bonita e empolgante, mesmo que falha.

Outros filmes indicados a melhor filme:
Os Banshees de Inisherin
Avatar: O Caminho da Água
Top Gun: Maverick
Elvis
Triângulo da Tristeza
Tudo em todo lugar ao mesmo tempo
Nada de novo no front
Os Fabelmans

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