
O mundo não precisava ou mesmo pediu por uma continuação de “Top Gun: Ases Indomáveis”, filme que marcou os anos 80, época em que a Guerra Fria dava mais sentido ao ufanismo e à ode ao militarismo típico dos norte-americanos. Mais de 35 anos depois de seu lançamento, o longa ganhou, mesmo assim, uma continuação temporã, “Top Gun: Maverick”, que é, sim, melhor do que o original.
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Se o filme de 1986 era uma mistura de romance com cenas aéreas de ação sem sentido ou uma trama bem desenvolvida, a nova produção consegue amarrar um pouco melhor a história, apresentando uma missão e um plano mais claros que faltavam ao original. O novo longa também deixa um pouco de lado a estética de publicidade do filme dirigido por Tony Scott e abraça uma dinâmica mais parecida com as produções de ação atuais, com uma edição frenética e ritmo ágil.
A verdade é que “Top Gun: Maverick” é um filme muito bem feito, o melhor tipo de cinema-espetáculo que Hollywood tem a oferecer. Com sua escala épica que brinda o público com cenas bem fotografadas e meio a um som alto e límpido, a continuação do sucesso da década de 1980 diverte e entretém, lembrando que o cinemão segue vivo longe das franquias de super-heróis, ainda que respirando com a ajuda de aparelhos.
“Top Gun: Maverick” começa quase como uma refilmagem do original, repetindo as cenas que antecedem os voos rasantes dos aviões da marinha enquanto toca a mesma canção que abria o filme de 1986. Essa sensação de dejà vu perpassa todo o filme, mas o novo longo é menos uma cópia e mais uma homenagem nostálgica ao primeiro, que transformou Tom Cruise em um astro e entrou para o imaginário do cinema.

O novo longo pode até não repetir o sucesso do original com as imagens icônicas do jovem Cruise de calça jeans e camisa branca apertadas em cima de uma moto com seus óculos Ray Ban. O mundo não é mais o mesmo de 1986, muito menos o cinema com a quantidade de conteúdo atual, cada vez consumido de modo mais rápido e descartável. Mas mesmo que “Top Gun: Maverick” não entre para a história do cinema como o primeiro, o longa tem seus méritos e é um belo exemplar de cinema de ação (muito melhor do que a produções genéricas que a Netflix lança, por exemplo).
O longa já mostra a que veio com uma bela cena de Tom Cruise/Maverick testando os limites de velocidade de um avião supersônico. Punido por uma contravenção, o personagem, que segue egocêntrico e arrogante, mas sentindo o peso da idade, é enviado para a escola naval que o formou para ser professor de uma nova leva de alunos que precisa cumprir uma missão praticamente impossível. Em meio a tudo isso, ele reencontra um amor do passado (vivido por uma Jennifer Connelly linda de doer).
Vale a pena ver de novo: Top Gun: Ases Indomáveis
Assim resumido em poucas palavras, o roteiro do longa não traz nada de novo, praticamente copiando a estrutura, a dinâmica entre os personagens e algumas cenas do original (a relação entre os novatos vividos por Miles Teller e Glen Powell é basicamente a mesma de Cruise e Val Kilmer no passado, por exemplo). Cheio de clichês, “Top Gun: Maverick” repete, inclusive, a aura de conflito paterno que move a trama. Se no original Cruise lidava com a fama do pai, aqui ele precisa confrontar o filho do amigo morto. Tudo, claro, em meio à ideia de culpa, ordem/desobediência e sucesso/fracasso tão cara ao cinema norte-americano.

Mas se o roteiro não é melhor peça de “Top Gun: Maverick”, o diretor Joseph Kosinski (“Oblivion” e “Tron: Legacy”) entende que precisa de algo a mais para prender a atenção do público. É aqui que entram vários detalhes que elevam o longa. Da competência técnica que transforma o ato de ver o filme em uma experiência à química perfeita entre Tom Cruise e Jennifer Connelly (trazendo charme e profundidade a uma personagem sem muita função), praticamente todos os ingredientes do filme estão no lugar.
Mesmo os clichês, por exemplo, soam reais e honestos, assim como um certo senso de melancolia que abraça todo o longa (em especial em virtude da pequena participação de Val Kilmer, repetindo o papel de Iceman). O carisma de Tom Cruise também está a favor do longa, com o ator abraçando a idade e dando o melhor de si, seja nas cenas em que leva seu corpo ao limite pilotando aviões ou na interação com o resto do elenco, de Connelly a Miles passando por Jon Hamm (no papel mais caricato do longa, o do comandante que respeita às regras e despreza a espontaneidade de Maverick) às pequenas participações de Kilmer e Ed Harris.
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Como nem tudo é perfeito, “Top Gun: Maverick” derrapa um pouco em sua parte final, quando a missão precisa ser cumprida. O filme pisa fundo na abordagem piegas e exagera ao confiar demais na boa vontade do público em comprar toda uma ação que parece forçada e nada verosímil. O longa também peca na questão de inclusão, com personagens femininos descartáveis e com um elenco coadjuvante diverso, mas que segue na sombra dos heróis brancos e padrões. Mas esses são apenas pequenos poréns, nada que comprometa o resultado final de um filme divertido, dinâmico e nostálgico na medida certa.
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