O Homem do Norte

Robert Eggers já havia demonstrado seu potencial estético para criar imagens impactantes em “A Bruxa” e “O Farol”, mas o cineasta leva essa habilidade às últimas consequências em “O Homem do Norte”. Usando uma escala mais épica, o diretor visita o universo dos Vikings em uma mistura de batalhas sangrentas, rituais religiosos e uma encenação teatral.

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Dessa mistura inusitada resulta um filme estranho, visualmente marcante e cheio de cenas que exacerbam plasticidade, mas que peca pela abordagem um tanto fria e distante. Alexander Skarsgård urra e mata sem piedade, mas a mise-en-scène é tão ensaiada e teatral que a força da trama é atropelada pela beleza das imagens e pela lentidão da narrativa.

Se no campo visual o longa é um desbunde, em termos de trama, “O Homem do Norte” decepciona um pouco, deixando de lado um pouco da ousadia narrativa de Eggers para focar em uma história de vingança que, se não é repetitiva, não oferece nada de muito novo. Até a própria reviravolta, que muda toda a perspectiva do protagonista sobre sua vida, é fácil de antecipar.

Em “O Homem do Norte”, Alexander Skarsgård vive um homem marcado por um passado sangrento e que jura vingança pela morte do seu pai. Depois de mais uma batalha violenta, o personagem presencia uma visão (Bjork em uma participação bem pequena) e decide encarar sua sina, abandonando mais uma vez sua vida para reencontrar o algoz de seu pai.

Depois de um prólogo em que Robert Eggers parece emular Shakespeare, “O Homem do Norte” dá uma virada. Mas não o suficiente para que o diretor deixe de lado o apego aos rituais (que soam mais risíveis do que amedrontadores) e uma certa abordagem new age da trama (algumas cenas, por exemplo, lembram as partes mais cafonas de “A Fonte da Vida”, de Darren Aronofsky).

Em meio a uma narrativa pesada e pretensiosa e um banho de violência que chega a incomodar, “O Homem do Norte” ganha pelo elenco, ainda que parte dele tenha muito pouco a fazer. Ethan Hawke, Willem Dafoe e Bjork mal aparecem. A própria Nicole Kidman, interpretando a mãe de Alexander Skarsgård tem uma participação pequena, ainda que marcante. Enquanto Anya Taylor-Joy tem um registro maior (e clichê), o filme pertence mesmo a Skarsgård e a seu antagonista vivido por Claes Bang.

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No geral, comparado aos outros trabalhos do diretor, “O Homem do Norte” ganha em escala, mas perde em originalidade, o que não deixa de ser um tanto decepcionante, principalmente em virtude das expectativas geradas pelo diretor e elenco. Ainda assim, é louvável que Robert Eggers entregue um filme sem muitas concessões. Em tempos de produções cada vez mais formulaicas, previsíveis e bobas, “O Homem do Norte” é um longa que demanda atenção e estômago de seu público, que é brindado com uma luta final entre dois guerreiros pelados em meio a chamas e lavas. Poucos filmes hoje em dia seriam capazes de tal ousadia.

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