Elvis

Baz Luhrmann é dono de um cinema cafona e exagerado, cheio de brilhos, glitters e paetês. O cineasta parecia perfeito então para comandar uma cinebiografia musical com sua tendência ao excesso e ao uso de uma edição frenética, fugindo da fórmula genérica desse tipo de produção que tem assolado os cinemas recentemente. Mas a ideia só funciona no papel, com a assinatura do cineasta sendo exatamente um dos maiores problemas de “Elvis”, filme que passeia pela vida do primeiro grande astro da música pop, Elvis Prestley, mas que peca pela superficialidade.

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Uma das primeiras questões do longa é narrá-lo sob a ótica do empresário que descobriu Elvis, não do próprio artista, que, várias vezes, fica relegado ao segundo plano, como se ele fosse coadjuvante da própria história e vida. A abordagem até faz sentido já que o roteiro retrata o cantor como uma marionete, mas é uma estratégia maniqueísta, ainda mais porque o filme constrói o empresário (um caricato Tom Hanks, em um de seus piores trabalhos) como se fosse um vilão de HQ. O resultado dessa visão é extremamente simplista e chega a ser ingênuo o tratamento de vítima que o roteiro emprega a Elvis, sem nenhum desenvolvimento de sua personalidade.

Também chega a ser engraçado uma produção essencialmente hollywoodiana, completamente inserida nas engrenagens da indústria cinematográfica, apelar para a estratégia do capitalismo como vilão. Mais do que um artista, Elvis vira um produto, nada muito diferente do que tudo o que o capitalismo toca (inclusive o próprio filme) com o empresário vilanesco interessado apenas em mais dinheiro, manipulando do artista ao seu pai (um apagado Richard Roxburgh), tipo os cientistas gananciosos da franquia dos dinossauros, por exemplo.  

Dramaturgicamente, essa aura de endeusamento e romantismo que cerca a imagem do ídolo transforma “Elvis” em uma cinebiografia totalmente chapa-branca, sem nenhum questionamento ao comportamento do astro. Já, narrativamente, a vida do cantor é atropelada pelo ritmo vertiginoso e pelo excesso de cortes, justamente uma das principais características do cinema de Luhrmann e o que, na teoria, afastaria o filme da vala comum desse tipo de produção.

Mas é justamente a câmera que mal fixa em qualquer imagem e a verve frenética de Baz Luhrmann (que funcionou muito bem em filmes como “Romeu + Julieta” e “Moulin Rouge”) que aceleram em demasia a história do garoto simples que cresceu no Sul racista dos Estados Unidos e transformou a história da música pop. Se por um lado, essa sucessão de cortes e movimentos de câmera dá um dinamismo ao longa de quase 3 horas (que passam voando), por outro, não abre espaço nenhum para que os temas pincelados (racismo, conservadorismo, exploração do trabalho e relações profissionais abusivas) sejam realmente desenvolvidas.

Elvis” vira assim uma colagem de momentos marcantes da carreira do ídolo, mas, muitas vezes, mostrados sem contexto ou profundidade, reverberando exatamente uma das críticas mais recorrentes às cinebiografias musicais, abarcando e condesando uma vida a fragmentos aleatórios. Esse excesso quase torna “Elvis” ainda um espetáculo da vertigem, com uma energia caótica que afeta a própria suposta beleza estética do filme (com direção de arte e figurinos da oscarizada esposa do diretor, Catherine Martin), com cenários grandiosos e figurinos icônicos que se perdem em meio à overdose de cortes.

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Resta então o espetáculo pelo espetáculo, o excesso pelo excesso. Quase 10 anos depois do insosso “O Grande Gatsby” (2013), Baz Luhrmann dirige “Elvis” como uma ópera-rock, usando o rosto de Austin Bluter (um bom ator lutando para dar dimensão a um esboço de personagem) para emoldurar um exercício de estilo simplista e que pouco revela sobre quem realmente era Elvis Prestley.  Nada muito diferente de várias outras cinebiografias musicais, aqui apenas banhada em mais brilho.  

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