
Ruben Östlund não acredita na humanidade e em redenção, como deixa claro em filmes como “Força Maior” e “The Square: A Arte da Discórdia”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Seu mais recente filme, também vencedor do grande prêmio em Cannes, “Triângulo da Tristeza” segue a linha de descrença do cineasta, não apontando saídas para questões como desigualdade social e os papéis estabelecidos entre as classes sociais, com os ricos sendo servidos por trabalhadores que existem apenas para cumprir com os desejos dos mais abastados.
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Partindo de uma premissa já explorada por outros filmes e séries, do oscarizado “Parasita” à vencedora do Emmy “The White Lotus” e de “Downton Abbey” à recente “The Gilded Age”, “Triângulo da Tristeza” usa um cruzeiro de luxo como metáfora para nossa sociedade fundada e dividida entre quem merece estar na piscina tomando champagne e quem é obrigado a pular de um tobogã no meio do oceano por causa de um capricho de uma russa milionária.

Uma das questões de “Triângulo da Tristeza” é justamente essa, outros filmes e séries já se debruçaram sobre esse mesmo tema de forma mais interessante e inteligente, melhor estabelecendo seus personagens, desenvolvidos e defendidos por seus atores como seres humanos, não apenas peças de um roteiro manipulador. E é essa a sensação que Östlund deixa no espectador ao criar personagens sem nenhuma dimensão ou carisma, prontos apenas para defender as ideias propostas pelo roteiro do próprio cineasta.
Se os longas anteriores de Ruben Östlund apontavam para um cinema pretensioso e pouco ou nada sutil, “Triângulo da Tristeza” opta por uma abordagem mais palatável. O cineasta deixa de lado as simbologias e dilui suas ideias em um tom satírico que gera gargalhadas e teima em rir da desgraça desses personagens fúteis e milionários que reclamam das velas sujas de um navio sem velas ou sorriem enquanto contam que sua riqueza vem da venda de granadas.
Ainda que muito bem realizado e, em partes realmente divertido, Ruben Östlund não sabe, no entanto, quando parar, confiando demais na inteligência de seu trabalho. “Triângulo da Tristeza” se torna então vítima de si mesmo, com o cineasta batendo infinitamente na mesma tecla e exagerando nesse exercício de expiação que usa a escatologia e o humor para punir a elite do dinheiro.

Dividida em três partes, essa saga de 2h30 ainda demora a dizer a que veio, com uma primeira parte toda dedicada a apresentar o casal jovem de protagonistas, o modelo Carl (Harris Dickinson) e a digital influencer Yaya (Charlbi Dean, falecida recentemente). Os dois funcionam como um espelho para o público, chocados diante dos absurdos que presenciam, ainda que, mesmo não sendo milionários, ambos embarcam sem cerimônia na lógica hierárquica do iate.
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Com um final em aberto que parece não querer deixar claro as intenções revolucionárias de Östlund, “Triângulo da Tristeza” é um filme interessante e quase divertido, mas que se perde em suas próprias intenções. No final das contas, o longa parece perfeito para agradar uma elite que ri das desgraças do filme sem se dar conta que cumpre um papel fundamental na manutenção das dinâmicas sociais que o próprio longa critica.
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