
Deivinho, Eunice, Tercia e Wellington moram em Belo Horizonte, mas poderiam estar em qualquer periferia de uma grande cidade brasileira. O sotaque mineiro dos quatro denuncia a região onde moram, mas os dramas que eles vivem são comuns a milhares de famílias espalhadas pelo Brasil.
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Wellington é zelador de um prédio de luxo, já Tercia faz bicos como faxineira. Eunice estuda Direito na Universidade Federal, enquanto Deivinho sonha em ir para Marte, mesmo o pai insistindo para o garoto tentar a sorte como jogador de futebol. Retrato da classe baixa do país que sofre para pagar as contas no final do mês, essa família enfrenta mais do que dificuldades financeiras, mas precisam lidar, em meio a sonhos e frustrações, com outros conflitos comuns a pais e mães, filhos e irmãos.
Indicado pelo Brasil para representar o país no Oscar 2023, “Marte Um” é simples e extremamente tocante. O primeiro acerto do diretor e roteirista Gabriel Martins é não transformar o filme em um panfleto. A política que permeia o longa está na existência dos próprios personagens, não em discursos, mesmo a trama se passando logo após a vitória de Jair Bolsonaro à presidência em 2018.

Negros e periféricos, os personagens enfrentam a batalha diária da vida enquanto trabalham, educam os filhos e tentam resistir aos sonhos limitados pelo baixo orçamento mensal. Entre um dia de trabalho e outro, resistem à desesperança, ao preconceito, ao alcoolismo e à descoberta de uma filha lésbica, tudo em meio ao olhar delicado e poético de Gabriel Martins.
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Quase sem trama, “Marte Um” apenas acompanha esses quatro personagens, sem transformá-los em vítima, mas ciente da forma injusta que a sociedade os trata. Na metade para o final, o longa chega a engatar uma narrativa mais convencional, por um momento quase resvalando para o cinema social e duro de Ken Loach (“Eu, Daniel Blake” e “Você não estava aqui”), mas Gabriel Martins opta pela esperança e pelo sonho, pelo perdão e amor transmitidos nos belos diálogos e olhares cúmplices de um elenco que parece mais unido do que muitas famílias de verdade.
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