
“The White Lotus” começa convencional não fugindo muito da fórmula de séries sobre gente branca e rica isolada em um retiro, resort, spa ou centro de reabilitação, tendo como exemplo bem recente a minissérie “Nove Desconhecidos“. Sabemos logo do início que ocorreu um assassinato em um resort de luxo no Havaí para, em seguida, sermos apresentados aos hóspedes envolvidos na trama.
Como é criada e dirigida por Mike White (um dos responsáveis pela maravilhosa “Enlightened“), logo a série subverte sua fórmula inundando a trama com diálogos ácidos e situações para lá de bizarras. O assassinato, quem morreu e quem matou, por exemplo, são meros detalhes perdidos em meio a personagens assustadores que cospem absurdos sobre como jovens brancos e héteros precisam ser salvos da fúria progressista, por exemplo.
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Confinados nesse resort de luxo, vemos a dinâmica de preconceitos e privilégios de uma família cuja matriarca é uma CEO de sucesso que não para de trabalhar nem nas férias. Em outro quarto, acompanhamos a decepção de uma jovem récem-casada diante da imaturidade do marido mimado, que está mais preocupado com um erro que gerou uma troca de suítes do que com o aparecimento da mãe em plena lua-de-mel.
Outra personagem marcante é a ricaça alcoólatra e desequilibrada (vivida pela ótima Jennifer Coolidge, desde já minha favorita para o Emmy 2022) que não consegue se livrar do fantasma da mãe, devidamente presente na forma de cinzas em uma urna que a tal carrega para cima e para baixo. Costurando as loucuras de todos esses personagens que vivem fora da realidade, o gerente do resort tenta, sem muito sucesso, manter tudo em ordem.

Ao longo de seis episódios, a série tira a máscara de desses personagens e entrega um retrato sórdido do ser humano, com direito a cenas absurdas que envolvem abuso de drogas, roubos, cunetes, escrotos inchados, fezes em uma mala e por aí vai. Tudo isso com direito a uma ótima trilha sonora e edição que transformam em algo enervante a experiência de acompanhar a série (o quarto episódio é o ápice dessa jornada).
Sem nunca se levar a sério (o que já a difere de início de “Nove Desconhecidos“), “The White Lotus” apela para o humor do ridículo para fazer uma crítica mordaz à sociedade atual sob o ponto de vista dos explorados e dos exploradores. Parece chato, mas é divertidíssimo com o resort funcionando como um espelho das lutas de classes em meio a dinâmicas de poder das relações familiares e de trabalho.
Com um ótimo elenco (Murray Bartlett, Connie Britton, Jake Lacy, Steve Zahn, Sydney Sweene, entre outros) e um belo roteiro, a série faz jus ao hype e é uma das grandes surpresas de 2021. Inicialmente produzida como minissérie, “The White Lotus“, inclusive, já foi renovada para uma segunda temporada no formato de antologia, com um novo elenco e personagens.
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