Sex/Life

Mistura de “Sex and the City” com “50 Tons de Cinza”, “Sex/Life” é a essência do guilty pleasure, algo que você sabe que é ruim, mas consome avidamente. Da forma mais óbvia e narrativamente pobre possível (flashes para determinar o passado e câmeras lentas para mostrar intensidade, por exemplo), a série da Netflix conta os dramas de uma dona de casa que está insatisfeita sexualmente no casamento e começa a fantasiar com o ex-namorado boy lixo gostoso e “tarado” (dentro de uma perspectiva cristã conservadora, claro).

Contado em uma narração em off bem clichê com direito a Billie, a esposa insatisfeita, relembrando a vida sexual pregressa em um diário (estrutura usada e abusada pela colunista Carrie em “Sex and The City”), o programa quer falar sobre o desejo e a insatisfação feminina, aqui “ousando” questionar o matrimônio, a maternidade e o “felizes para sempre”. 

A questão é que “Sex/Life” faz isso sem nenhuma sutileza, apelando para um texto clichê e uma encenação de novelão cafona que parece datada já há tempos (nesse sentido, a série me lembrou muito “Gypsy”, outro programa de qualidade bem duvidosa da Netflix). Com uma estética soft porn bem anos 90, fica difícil então levar o programa a sério, ainda que ele se leve. 

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Como tudo parece desculpa para as “tórridas” cenas de sexo de fazer corar só quem nunca viu um filme pornô na vida, a trama pouco tem sentido. A péssima construção da protagonista não ajuda. Ela passa oito episódios em cima do muro entre ficar com o marido príncipe encantado ou jogar tudo para o alto e se entregar ao desejo pelo boy lixo que destruiu seu coração (Carrie e mesmo Felicity já fizeram isso com mais propriedade). 

Os atores limitados que escorregam no texto e nas situações inverossímeis só pioram o que já não é bom. Sarah Shahi até se esforça, mas o papel ingrato e a dramaturgia de botequim impedem que a atriz saia do lugar comum. Mike Vogel, o marido príncipe encantado, parece uma versão mais canastra de Tom Cruise (a maquiagem que parece bronzeamento artificial também não ajuda). E Adam Demos, o boy lixo garanhão, sabe fazer caras e bocas de sensual, mas parece um poste. 

Refletindo a própria indecisão da protagonista em meio a uma Nova York mais genérica possível, “Sex/Life” patina também em suas intenções. Ora a série parece uma novela das 18h disfarçada de filme pornô para vender uma ideal bem caretinha de casamento, ora ela quer se mostrar feminista e para frente ao bater na tecla de que mulheres podem tudo ao não se limitar apenas aos papéis de esposa e mãe. Mas a série não consegue defender direito nenhuma das propostas, ainda mais ao transformar a personagem central em alguém que, de tão indecisa, não desperta nenhuma empatia (quando o final completamente sem sentido que só se justifica para a série ter uma segunda temporada chega, o público já está lá torcendo pelos machos). 

Mas não se enganem, apesar de ruim (ou mesmo por isso), a série é divertidíssima e viciante. Assim como Billie, ela só não deveria se culpar tanto por querer uma putaria de vez em quando.

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