
Quatro é número mágico entre as séries sobre amizades femininas. De “Sex and The City” a “Girls” e “Big Little Lies” (a personagem de Zoë Kravitz apenas circula pelo núcleo duro das personagens brancas e ricas), todos os programas centram o foco na relação entre quatro amigas completamente diferentes.
Criada pela atriz, roteirista, produtora e diretora Julie Delpy (da ótima trilogia “Antes do Amanhecer”, Antes do Pôr-do-Sol” e “Antes da Meia-Noite”), “À Beira do Caos” segue essa fórmula à risca, narrando as desventuras de quatro amigas em Los Angeles.
Temos a chef bem-sucedida (Delpy) casada com um arquiteto fracassado; a cinquentona hiponga (Elisabeth Shue) que ainda vive de mesada da mãe; a fracassada (Alexia Landeau) que pula de emprego em emprego e é mãe de três filhos de pais diferentes; e a negra com descendência persa (Sarah Jones) que cansou de ser só mãe e quer voltar ao mercado de trabalho.
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No geral, um dos problemas da série são as próprias personagens, todas autocentradas e envoltas em seus white people problems (até a negra age como branca). São mulheres à beira de um ataque de nervos que parecem se sentir inadequadas em suas peles de adultas, profissionais e mães, como se as meninas mimadas de “Girls” tivessem apenas envelhecido e não amadurecido.

É difícil também entender muito bem o que Julie Delpy quer com a série. Às vezes, o programa parece tirar onda da galera quarentona/cinquentona progressista até a página dois que não entende muito bem a evolução do mundo. Às vezes, Delpy, que além de criadora, roteirista, produtora e protagonista ainda dirige vários episódios, parece usar “À Beira do Caos” para passar a mão na cabeça dessa geração, quase como um pedido simplista de desculpa por eles não acompanharem mais as mudanças.
Em meio a essa indecisão, sobram situações clichês (casamentos falidos, fracasso profissional, exploração de menores, histeria materna e por aí vai) e deslocadas (como a virada completamente sem sentido da personagem negra ou a au pair alemã que nada acrescenta à trama).
Nessa dicotomia entre o piegas e as piadas, “Á Beira do Caos” tem lá seus momentos divertidos e é fácil de assistir, graças principalmente ao elenco. Tirando Alexia Landeau, que não consegue dar nenhuma nuança a personagem mais desagradável da série, Delpy, os sumidos Elisabeth Shue e Giovanni Ribisi e até as crianças estão muito bem.
Outra questão são os intermináveis 12 episódios da primeira temporada. Houve uma época em que seriados sobreviviam muito bem a mais de 20 capítulos. Mas esse tempo passou, e a trama de “À Beira do Caos” não justiça tantos episódios, ainda que curtos. Quando a série chega ao final, justamente no início da pandemia de Covid-19, fica a questão se faz sentido ver mais uma temporada sobre esses personagens tão irritantes, ainda mais em lockdown.
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