
A Globo sempre tentou alcançar um certo refinamento narrativo que não existia em suas novelas em séries e minisséries, que começaram a ganhar respeito e ousadia estética nos anos 1990. De lá para cá, a emissora lançou muito conteúdo de qualidade no formato, mostrando o seu poderio em tramas rebuscadas, bem dirigidas e com um elenco renomado.
Com a plataforma de streaming Globoplay, a emissora ganhou ainda mais espaço e liberdade para explorar temas e estéticas de forma mais ousada. O resultado dessa nova estratégia é a razão da existência de séries como “Onde está meu coração”, recém-lançada pela plataforma.
Em 10 episódios, o programa narra os dramas de Amanda, uma médica que se vê viciada em crack, destruindo sua família, carreira e relacionamentos no meio do caminho. “Onde está meu coração” segue bem a linha de programação com uma pegada mais elitista da Globo, com um ritmo mais lento e uma narrativa mais estilhaçada que muito difere de suas novelas mais tradicionais.

O resultado aqui, no entanto, é irregular. Mesmo com um bom elenco, liderado por Letícia Colin, que vive Amanda, a médica viciada, a série patina graças a um roteiro que muitas vezes desvia do conflito central, dando espaço demais para personagens desinteressantes e que nada agregam em cena, como a irmã da protagonista ou a ricaça vampira de homens.
“Onde está meu coração” também peca pelo excesso. A direção, por exemplo, muitas vezes fica na frente da própria trama, com cenas longas demais e sempre muito calculadas, o que tira uma certa espontaneidade da história e das interpretações.
Com um tema pesado e algumas cenas bem fortes, a série consegue manter o interesse do espectador muito em parte pela interpretação de Letícia Colin, que se entrega à personagem e consegue desviar das armadilhas de um roteiro fraco e uma direção pretensiosa.