
“Black Mirror” praticamente estragou para mim as narrativas que tentam discutir a relação entre o homem e a tecnologia. “Made for Love”, série da HBO Max (plataforma que deve chegar ao Brasil em junho), segue um caminho cômico que os episódios do programa da BBC/Netflix não tinham, mas não foge muito das tramas propostas por “Black Mirror”, aqui estendida e desenvolvida em mais episódios.
A ótima Cristin Milioti (que está em um dos episódios de “Black Mirror”) vive uma mulher que mora presa por dez anos ao lado do marido recluso em um hub tecnológico. O marido, que é uma espécie de guru de umas das maiores empresas tecnológicas do mundo (um papel que faz clara alusão ao Mark Zuckerberg), quer implantar na esposa um chip que decodifica emoções e permite que o parceiro tenha total acesso aos sentidos da pessoa implantada.
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“Made for Love” começa com a personagem fugindo e voltando para sua família no meio do nada dos Estados Unidos. A partir daí, a série vai e volta no tempo para mostrar como a personagem conheceu o tal gênio da tecnologia (vivido de forma egocêntrica e alienada por Billy Magnussen) e decidiu se libertar da prisão do seu casamento.

Apesar de alguns comentários sociais interessantes, “Made for Love” não consegue fugir de um problema em sua própria concepção. Em nenhum momento é possível acreditar que uma personagem tão transgressora como a de Milioti, com um histórico de trambiques, por exemplo, se deixaria dominar e assumir uma postura totalmente passiva perante seu marido (que ela conheceu em um dia e se casou no outro) durante dez anos.
Tirando esse “pequeno” detalhe, a série ainda se perde um pouco ao focar em personagens secundários que ora parecem perdidos na trama ora são totalmente descartados (ok, é uma série e eles podem voltar a ser explorados novamente pela narrativa, mas nessa primeira temporada, eles pouco acrescentam).
Ainda assim, “Made for Love” diverte, é curtinha, com apenas 10 episódios e traz algumas situações bem construídas para despertar o interesse do público (a sacada do pai da personagem principal ter um relacionamento com uma boneca sintética é muito boa). O bom elenco liderado por Milioti (que parece interessada em personagens presos em situações repetitivas, como no ótimo “Palm Springs”) também ajuda a série superar suas falhas.
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