Entra ano e sai ano e a Academia de Artes Cinematográficas luta para se manter em dia e antenada com as mudanças do mundo, mas quanto mais ela muda, mas ela parece a mesma. Enfrentando uma pandemia e com vários filmes sendo adiados para 2021/2022, o Oscar pouco mudou em 2020, mesmo a premiação tendo se aberto (um pouco) às produções dos streamings, já que houve escassez de filmes lançados propriamente nos cinemas, e ampliado em dois meses seu período de elegibilidade.
Contra todos os piores prognósticos e entre os mesmos filmes políticos/politizados, adaptações com pedigree, dramas familiares e filmes sérios/pretensiosos, a Academia entregou uma lista de indicados digna e para agradar a praticamente todos os gostos. Curiosamente, mesmo com “poucos” filmes, o Oscar 2021 não incluiu nenhum longa realmente ruim na sua eclética lista, algo até raro, já que todo ano uma ou duas produções sem muitos méritos acabam sendo indicadas (“Os Miseráveis”, “Vice”, Um Sonho Possível”, “Trapaça”, “Tão Forte, Tão Perto” etc.).
Mais uma vez, no entanto, a Academia deixa de fora vários filmes melhores do que os indicados (“First Cow”, “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre”, “Destacamento Blood”, “Palm Springs” e por aí vai) preferindo apostar no convencional ou no cinema independente padrão.
A seguir, a minha ordem crescente de preferência entre os longas indicados na categoria de melhor filme:

“Os 7 de Chicago” – Uma das principais apostas de 2020 da Netflix, esse drama de tribunal é o mais fraco da leva. Com uma direção genérica e um roteiro maniqueísta e recheado de clichês (ambos cortesia de Aaron Sorkin), o filme ainda abraça o convencional no sentindo estético, não apresentando nada de novo (as indicações para edição e fotografia são uma piada). Deve agradar ao público engajado de shopping center por passar uma mensagem “importante”. Recebeu seis indicações.

“Mank” – David Fincher é um dos meus diretores favoritos, dai a decepção com esse filme cheio de pompa e pretensão. Com uma desbunde de fotografia em p&b e trazendo o habitual esmero estético do diretor, o longa se perde em uma trama confusa que vai e volta no tempo e parece apenas uma desculpa para o cineasta criticar/homenagear a Hollywood de antigamente. Pena que a trama seja sem graça e distante. Recebeu 10 indicações e também está disponível na Netflix.

“Judas e o Messias Negro” – Mais um filme de mensagem na lista, aqui filmado com mais esmero por Sasha King. O longa narra a trama de conspiração do assassinato do líder do grupo revolucionário Panteras Negras. O elenco é bom e o filme tem lá seus momentos, mas ele vai perdendo impacto até terminar da forma mais anticlimática possível. Recebeu seis indicações ao Oscar e deve ganhar o prêmio de ator coadjuvante para Daniel Kaluuya.

“Bela Vingança” – Talvez o filme mais diferente e com menos “cara de Oscar”. Com uma pegada ácida e irônica, o longa mostra o plano de vingança de uma mulher contra homens assediadores. O tema é relevante e atual, mas o filme apela para vários tons que nem sempre funcional, ainda que a abordagem seja ousada, original e pop. De qualquer forma, a produção traz a personagem feminina mais icônica do ano, vivida com vontade por uma ótima Carey Mulligan. Recebeu cinco indicações e merece o prêmio de melhor atriz.

“Minari” – Uma drama sobre uma família de coreanos que tenta viver o sonho americano no interior rural dos Estados Unidos. Com um roteiro e direção sensíveis e um elenco cheio de carisma, o filme conquista fácil e emociona, mesmo sendo apenas um bom cinema e não trazendo nada de novo. Recebeu seis indicações ao Oscar e pode levar os prêmios de atriz coadjuvante (a ótima Yuh-Jung Youn) e roteiro original.

“O Som do Silêncio” – A Netflix investiu pesado em vários filmes com cara de Oscar, mas a Amazon venceu (pelo menos em qualidade) a batalha entregando a melhor produção de streaming da lista. Adulto e cru, o longa conta o drama de um baterista que perde a audição e precisa lidar com a nova condição. Sem redenções, o filme ainda ganha pontos pelo belo elenco, liderado por uma das melhores atuações do ano: o fenomenal Riz Ahmed. Recebeu seis indicações e a vitória categoria de som é dada como certa.

“Meu Pai” – Adaptado de uma peça de teatro do próprio diretor (Florian Zeller), o filme conseguiu o que “A voz suprema do blues” e “Uma noite em Miami” não conseguiram: ser cinematográfico. Com uma ótima edição e direção de arte, o longa mostra de forma original a confusão mental de um personagem que sofre de demência, o ótimo Anthony Hopkins. Delicado e emocionante, o filme é uma experiência destruidora. Recebeu seis indicações.

“Nomadland” – É extremamente raro o meu filme predileto ser também o favorito para levar o prêmio. Esse drama intimista e poético conseguiu o feito. Quase sem trama, o longa mostra uma maravilhosa Frances McDormand vagando pela tela em paisagens belíssimas e entre nômades que buscam algum sentido para a vida. Lindamente filmado, o filme é uma experiência sensorial e contemplativa e tem tudo para desagradar ao público médio que gosta de tramas fechadas baseadas em causa/efeito. Recebeu seis indicações e deve levar os prêmios de melhor filme e direção para Chloé Zhao, que se tornará a segunda mulher a ganhar o Oscar na categoria.
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