Mrs. America

Cate Blanchett está simplesmente odiável em “Mrs. America“. Na minissérie da Fx/Hulu, a atriz vive uma personagem real, Phyllis Schlafly, uma conservadora branca e rica que entra na política para lutar contra a inclusão na Constituição dos EUA de uma Emenda de Direitos Iguais defendida pelo movimento feminista na década de 1970. Para Schlafly, em nome de Deus, da moral e dos bons costumes, o dever da mulher é ficar em casa e ser submissa ao marido. Na época, ela temia que a emenda tirasse o privilégio das mulheres de serem donas de casa. A minissérie cobre cerca de uma década mostrando as várias vitórias e derrotas de ambos os lados da batalha, focando cada um dos nove episódios em mulheres centrais dessa história.

Com um elenco feminino dos deuses (Rose Byrne, Uzo Aduba, Melanie Lynskey, Margo Martindale, Tracey Ullman, Elizabeth Banks, Jeanne Tripplehorn), a minissérie peca por, muitas vezes, colocar o contexto e os fatos históricos em primeiro lugar, não abrindo espaços para desenvolver as pessoas por trás das personagens dessa história. Ainda assim, a minissérie é envolvente, muito bem realizada (a abertura já ganhou o próximo Emmy) e cria uma série de paralelos com a nossa trágica situação atual, um mundo de fatos inventados e/ou manipulados e discursos em nome de Deus influenciando, da pior maneira, as decisões políticas.

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A minissérie acerta ao tentar humanizar a personagem de Schlafly, mostrando que ela foi vítima de sua própria empreitada, tendo que aguentar uma série de humilhações por ser simplesmente mulher. Mesmo focando em várias personagens, a produção usa a personagem de Schlafly (vivida com um certo exagerado por Blanchett) como fio condutor da trama. O melhor episódio, no entanto, é o centrado em uma personagem fictícia vivida pela ótima Sarah Paulson, uma mulher casada e da trupe de Schlafly que, em determinado momento, percebe que a pauta conservadora pela qual ela tanto lutou não faz mais sentido.

O final é a pura melancolia e mostra como a chegada de Ronald Reagan ao poder, no início dos anos 1980, jogou um banho de água fria na ala progressista e acabou com uma era de avanços sociais, virando uma mancha de conservadorismo e atrasos que respinga ignorância e sangue até hoje (o conservadorismo, queridos, mata!). Quarenta anos depois, o movimento feminista ainda luta pela inclusão da emenda de Direitos Iguais à Constituição norte-americana e, infelizmente, ainda existem muitas Phyllis Schlaflys por aí.

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