
Criada por David E. Kelly a partir de um livro de Liane Moriarty, “Nove Desconhecidos” é uma decepção. A culpa é da expectativa gerada pela reunião de Kelly, Moriarty e Nicole Kidman, parte da equipe criativa por trás de “Big Little Lies“. Infelizmente, a minissérie da Hulu não é tão bem-sucedida quanto a da HBO.
A julgar pelos dois programas, Liane Moriarty tem como principal interesse os problemas de uma vida vazia de gente branca e rica. Se em “Big Little Lies” a trama girava em torno de um grupo de mães abastadas e um assassinato, aqui, a história é desenvolvida tendo como foco um bando de gente rica que vai para uma espécie de spa espiritual em busca da salvação.
De um lado, temos a guru etérea que parece caminhar pelas nuvens e solta palavras de sabedoria ao vento, mas esconde um segredo do passado (Masha, vivida por Nicole Kidman). Do outro, temos os pacientes dessa “clínica”: uma família destruída pelo luto, uma mulher que não consegue superar o ex-marido, um homem de meia idade amargurado, uma escritora de romances futeis sempre enganada pelos homens, um gay que parece um estranho no ninho e um jovem casal com problemas típicos da geração Z.
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Um dos poréns de “Nove Desconhecidos” é justamente não entregar nenhum personagem realmente interessante. Ainda que o bom elenco tente dar vida a essas pessoas, na tela, elas nunca passam de um rascunho de estereótipos. Outra questão é que a série se vende como um programa de suspense, mas o roteiro está mais focado em buscar a redenção dos personagens, não em desenvolver os supostos mistérios e segredos que cada um deles esconde.
No final das contas, apesar de ser filmada com esmero por Jonathan Levine (“50%”, “Casal Improvável” e “Meu Namorado é um Zumbi”), a minissérie sucumbe em uma abordagem autoajuda clichê e uma resolução boba que é um banho de água fria diante de sua pretensão. “Nove Desconhecidos” funciona assim como curiosidade, em especial por causa do elenco.
Nicole Kidman consegue passar a estranheza da guru cosplay de Galadriel, mas o roteiro não ajuda a atriz; as intenções de Masha não são nada convincentes, ainda mais porque ela se apresenta como um ser superior. Os melhores em cena são Asher Keddie, Michael Shannon e Melissa McCarthy, os únicos que conseguem escapar um pouco da superficialidade do texto e transformar seus personagens em pessoas reais. Já Regina Hall é o grande calcanhar de aquiles da minissérie. Apesar de boa atriz, ela não consegue salvar Carmel de ser a personagem mais ingrata e irritante do programa.
“Nove Desconhecidos” é boa e funciona como entretenimento descartável, e só.
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