
James Cameron parece um desses cineastas que precisa se provar a todo momento. Talvez até mesmo mais do que Steven Spielberg, toda a sua carreira se resume a uma sucessão de filmes-evento, produções que existem mais como “experiências cinematográficas” do que como boas narrativas (com algumas exceções, claro, como “Aliens, O Resgate” e “O Exterminador do Futuro 2”). No geral, os longas dirigidos por Cameron precisam da tela grande para serem relevantes, já que o foco está no impacto dos avanços técnicos e da revolução tecnológica, não necessariamente em uma boa trama com dramaticidade coerente e desenvolvimento de personagens.
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Treze anos depois de “Avatar” (2009), o ápice desse cinema-evento de Cameron, o cineasta está de volta com “Avatar: O Caminho da Água”, uma nova tentativa de transformar o universo de Pandora em mais uma obsessão mitológica do cinema comercial para vender bonecos Pop Funko (apesar do sucesso do primeiro, pouco depois de sua estreia, os personagens e universo introduzidos pelo filme desapareceram da memória coletiva).

Seguindo sua lógica de aumentar a escala das produções (coisa que ele já havia feito nas continuações de “Alien, o Oitavo Passageiro” e do modesto “O Exterminador do Futuro”), James Cameron exagera em tudo em “Avatar: O Caminho das Água”. Da excessiva e desnecessária duração de 190 minutos ao número de personagens e efeitos visuais, tudo na produção preza pela grandiosidade.
Falta ao resultado, no entanto, alguma originalidade estética, narrativa ou mesmo no quesito revolução, com “Avatar: O Caminho das Água” sendo um derivado não apenas do anterior como de boa parte de outras obras de Cameron (o final, por exemplo, parece uma mistura de “O Exterminador do Futuro 2” com “Titanic”).
Sim, claro, que as imagens construídas por James Cameron em “Avatar: O Caminho das Água” são impressionantes, em especial as sequências que se passam debaixo d’água. Mas o que elas têm de bonitas, elas também têm de vazias, parecendo uma mera repetição temática melhor renderizada do que as do longa de 13 anos atrás.

Se a “ousadia” estética do diretor parece mais do mesmo, com o longa banhado em cinquenta tons de azul que depois de um tempo cansa, narrativamente o filme é ainda mais problemático, com um fiapo de trama que não sustenta os 190 minutos e muito menos desperta qualquer emoção. Em determinado momento, principalmente no segundo ato do longa, Cameron parece até mesmo abandonar a história para focar nas imagens com cara de documentário da Discovery Channel, com cenas e mais cenas que funcionam apenas para bater na mesma tecla do “olhem aqui essa revolução tecnológica”.
Sem um roteiro que preste, com uma trama sem pé nem cabeça baseada apenas no conceito de vingança (com o vilão do primeiro filme reaparecendo do nada em forma de avatar para medir o tamanho do pau com o traidor Jake Sully), “Avatar: O Caminho das Água” vira uma longa imersão em um parque temático recheado de cenas incoerentes e (à parte as cenas de ação) mal editadas e sem dramaticidade.
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Uma pena para o espectador, que senta a bunda por três horas enquanto leva uma surra de cenas azuladas, e dos atores que pouco ou nada tem a fazer em meio a diálogos sobre a importância da família e do meio-ambiente: Kate Winslet, por exemplo, mal registra no filme; Zoe Saldana perde espaço para a briga entre os machos; Sam Worthington segue sem carisma e Sigourney Weaver é a que se sai melhor como uma adolescente filha de sua personagem no “Avatar” de 2009. No final das contas, “Avatar: O Caminho das Água” só faz sentido na maior tela com o melhor sistema de som possível. O filme é, sim, uma experiência cinematográfica e só.
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