Alien: Covenant

É triste ver que Hollywood realmente não tem nenhum apego pelos universos que cria. Já tivemos várias provas disso, e o novo Alien: Covenant, que tenta ao máximo fazer a ligação entre “Prometheus” e os filmes da série “Alien”, é apenas mais um exemplo.

Dirigido pelo mesmo Ridley Scott do clássico “Alien, o 8º. Passageiro” e do genérico “Prometheus”, “Alien: Covenant” é um mero pastiche da própria série, trazendo apenas um aspecto novo para a mitologia criada por Scott e desenvolvida por James Cameron, David Fincher e Jean-Pierre Jeunet (diretores das sequências): explicar tim-tim por tim-tim a origem do monstro clássico.

Aí reside o principal problema de “Alien: Covenant”: explicar o que não precisa ser explicado. E Ridley Scott ainda faz isso da forma mais didática possível, batendo na mesma tecla repetidas várias vezes para deixar bem claro a sua “ideia de origem”. O resultado é uma grande fissura na já esquizofrênica mitologia da série.

Aliada à trama desrespeitosa, o filme ainda replica um dos grandes defeitos de todas as produções que tentaram imitar a estrutura narrativa da série. A atmosfera climática é trocada pelo ritmo acelerado, explosões e sopapos; e os personagens interessantes e carismáticos são substituídos por zé-ninguéns que estão ali apenas para morrer.

“Alien: Covenant” é então uma síntese de uma série que tem altos e baixos, momentos geniais e outros decepcionantes, principalmente no episódio “Alien: A Ressureição”. O novo filme repete assim a mesma estrutura narrativa do primeiro, mas sem a atmosfera exasperante, e “pega emprestada” várias ideias e situações já apresentadas nos capítulos anteriores.

 

Tudo, claro, é entregue com a competência habitual hollywoodiana. Ridley Scott, que é um puta esteta, esmera-se na direção de arte de cair o queixo e consegue construir cenas ora tensas, ora visualmente bonitas. Mas estética não é tudo (que o diga “Prometheus”, visualmente muito mais bonito do que esse aqui, aliás), e todas as boas e más intenções do diretor são arruinadas por um roteiro capenga que transforma vários cientistas em personagens completamente burros e descartáveis. Nem mesmo os temas que ele quer abordar são desenvolvidos: o fato da tripulação da nave ser composta somente por casais e a boa e velha discussão “ciência x fé”.

Ainda assim o longa é assistível e traz pelo menos uma boa atuação, a de Michael Fassbander, o único ator que parece interessado em dar alguma dimensão aos personagens que interpreta, os sintéticos David e Walter (a melhor cena do longa é um diálogo entre os dois; e a pior é os dois brigando como se estivessem em um filme de luta).

Já a personagem de Katherine Waterston consegue ser ainda mais fraca do que a de Noomi Rapace, heroína de “Prometheus”. Tentar compará-la então à icônica tenente Ripley de Sigourney Weaver é uma vergonha…

Enfim, com uma continuação desse aqui já planejada e mais uma sequência protagonizada por Ripley/Weaver também nos planos, Hollywood pode respirar aliviada porque ainda tem muito para errar em uma série que merecia mais respeito.

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