“Rebecca – A Mulher Invisível“, nova produção da Netflix, não é propriamente um remake do oscarizado filme de Alfred Hitchcock, mas sim uma adaptação do romance que serviu de inspiração para o clássico dos anos 1940. Mas nem isso minimiza o peso da comparação entre os dois longas; e na comparação, a obra de Ben Wheatley (“No Topo do Poder” e “Free Fire”) perde feio.
A trama é basicamente a mesma. Uma jovem dama de companhia se apaixona por um homem rico durante as férias deste na Europa. Os dois acabam se casando, e ele a leva para morar na mansão Manderley, junto com os traumas da morte de sua ex-mulher. Wheatley capricha na direção de arte, fotografia e figurinos, mas praticamente todas as transformações que o diretor traz à história tiram o impacto do filme de Hitchcock, deixando essa nova versão tão apática quanto as cores pastéis que emolduram a produção.
Enquanto na versão de 1940, Rebecca, a ex-mulher morta do galã Maxim de Winter (antes Laurence Olivier, agora Armie Hammer), é uma presença constante na mansão, nessa nova adaptação ela praticamente vira um fantasma que desfila de roupa vermelha pelos sonhos da mocinha (vivida com vontade por Lily James). A própria mansão perde seu ar imponente e lúgubre para virar um cenário deslumbrante, mas nada assustador.
Se em 1940, Hitchcock contava com a inteligência do público para adiantar a trama e sugerir acontecimentos, em 2020, Wheatley deixa toda a sutileza de lado e esmiúça todos os detalhes do plot, não deixando nenhum espaço para a imaginação do espectador, com pesadelos entrecortando as cenas e funcionando apenas como desculpa para um rebuscamento visual do filme, por exemplo, além de se tudo mais explicado.
A maior decepção da produção, no entanto, é mesmo o icônico papel da governanta Mrs. Danvers, vivida de forma mais requintada e bem menos assustadora por Kristin Scott Thomas. A atriz está bem, mas as escolhas narrativas de Wheatley tiram todo o impacto da personagem, inclusive comprometendo as cenas em que ela deveria ser o destaque (a famosa cena do quarto passa longe de ser perturbadora como no filme de 1940). Mrs Danvers ainda ganha um desfecho bem menos memorável.
Talvez o único acerto da nova versão seja tirar um pouco (mas apenas um pouco) o ar de mocinha desamparada de Joan Fontaine, que vivia praticamente um relacionamento abusivo e submisso com Laurence Olivier no filme de 1940. Lily James ainda chora pelos cantos e só quer agradar o marido, mas ela desempenha um papel mais ativo nessa trama de morte, mistério, paixão e traição. De qualquer forma, é muito pouco para justificar a existência do longa, que, remake ou não, entra para a lista de pálidas versões de filmes de Alfred Hitchcock, junto com “Psicose” e “Um Crime Perfeito” (remake de “Disque M para Matar”), ambas de 1998.
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