Casa Gucci

Casa Gucci” é uma bagunça. Apesar de bom diretor (ele é dono de três dos meus filmes prediletos: “Alien, o 8o passageiro”, “Blade Runner” e “Thelma & Louise”), Ridley Scott não sabe o que quer com essa mistura de pastiche e drama que se perde em meio a conspirações e melodrama para narrar a história (baseada em fatos reais) de traição e assassinato envolvendo a família Gucci. 

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Perdido entre a seriedade e a afetação, Scott parece inadequado para dirigir essa trama que poderia render uma ópera cafona e cheia de estilo. Longe de ser um Ryan Murphy (alguém que poderia tirar bem mais proveito da história, entregando uma produção realmente extravagante), Ridley Scott dirige tudo com certa timidez, dando a impressão que ele não quer macular sua imagem de diretor sério. 

Sem investir realmente no tom afetado ou na solenidade, o cineasta dirige um filme confuso, arrastado e… feio. Para uma produção envolvendo o mundo da moda, “Casa Gucci” é visualmente desinteressante e sem estilo. A fotografia é escura e convencional, lembrando os tons escuros e sem graça de “Todo Dinheiro do Mundo”, um dos piores filmes de Scott. 

Já a edição é genérica, com o longa sendo entrecortado por vários hits dançantes (e mais do que batidos) que tentam injetar alguma energia em uma trama perdida em vários saltos temporais pouco definidos (ainda mais porque, mesmo se passando ao longo de quase 20 anos, os atores mal envelhecem diante das câmeras). Nem os figurinos realmente se destacam, um crime se levarmos em conta que a produção é sobre uma das maiores marcas do mundo da moda.

Além da direção insossa de Ridley Scott, “Casa Gucci” sofre também com um roteiro que não sabe o que quer. O filme começa com um tom de romance, mostrando o início da relação entre Maurizio Gucci (Adam Driver) e Patrizia (Lady Gaga). Depois vira uma espécie de “Sucession”, focando nas desavenças da família Gucci em relação ao comando do império. No final, o longa vira uma história policial sobre assassinato, terminando de forma anticlimática e sem impacto, com parte da história (como Patrizia foi descoberta e presa, por exemplo) sendo ignorada. 

Em meio a um excesso de tramas condensadas de forma desequilibrada em 2h37 minutos, “Casa Gucci” traz um dos elencos mais badalados da temporada, mas desperdiça esse desfile de grandes atores em uma história sem graça. Adam Driver, um dos atores mais talentosos da atualidade, pouco tem a fazer no papel do jovem milionário que briga com a família por causa de uma paixão. 

Lady Gaga se esforça (até demais), mas ela não é boa atriz o suficiente para dar nuança à personagem de Patrizia, até porque o roteiro não ajuda a deixar claro se a ela realmente ama Maurizio ou quer apenas sua fortuna. Gaga começa bem, mas vai perdendo força e presença de tela à medida em que a personagem demanda mais da cantora como atriz, terminando com uma atuação de uma nota só e quase apagada (a cena em que ela conspira a morte do ex-marido é de longe a pior da atriz/cantora). O resto do elenco se divide entre a caricatura (Jared Leto, Salma Hayek) e o apenas correto (Al Pacino, Jeremy Irons). 

Errando na mistura de pastiche e pretensão, “Casa Gucci” fica entre ser divertido e genérico, mas a produção é bem aquém do que poderia realmente ser, um exame interessante e escandaloso sobre ganância, ego, legado e poder. 

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