Não! Não Olhe!

Um dos maiores méritos do cinema de Jordan Peele é que o roteirista/diretor não faz muita questão de deixar tudo explicadinho como, na teoria, o cinema hollywoodiano tem que ser. Nesse sentido, o novo “Não! Não Olhe!” segue a mesma linha dos sucessos anteriores, “Corra!” (vencedor do Oscar de roteiro original) e “Nós”.

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Cercado de expectativa, “Não! Não Olhe!” pode decepcionar, no entanto, quem espera que o cineasta siga a trilha do cinema de terror como metáfora racial. Primeiro, mesmo com alguns sustos e um clima de mistério, o longa é menos um filme de terror e mais uma ficção científica com leves toques de horror. Jordan também deixa para trás o lado mais M. Night Shyamalan e sua propensão para reviravoltas e explora uma verve mais Steven Spielberg e sua mescla de cinema fantástico e sentimental.

Não que “Não! Não Olhe!” não seja um filme estranho, tão ou mais do que as outras produções de Jordan Peele. Mas o longa parece menos interessado em causar arrepios e mais focado em explorar as possibilidades narrativas e cinematográficas de uma trama que é praticamente uma ode ao audiovisual e ao poder das câmeras, com o próprio elemento central da produção remetendo a ideia de câmera escura.

Mesmo que a produção pareça bem mais cabeça do que os trabalhos anteriores do diretor, Peele não esquece seu talento para a ambientação e construção da encenação e narrativa. Nesse ponto, “Não! Não Olhe!” é um filme bem mais maduro e visualmente mais bonito e elegante do “Corra!” ou “Nós”, apelando menos para a claustrofobia e mais para uma vastidão espacial fundamental para a trama, lindamente capturada pela fotografia de Hoyte Van Hoytema, um mestre da sci-fi responsável pelo visual de longas como “Ela”, “Interestelar” e “Ad Astra”.

Em termos de trama, quando menos se souber sobre a história, mais interessante e surpreendente “Não! Não Olhe!” pode se tornar, principalmente porque Jordan Peele subverte as expectativas em uma espécie de mistura de “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” e “E.T.” (Spielberg) com “Sinais” (Shyamalan) e uma pitada do ótimo “The Vast of Night” (disponível na Prime Video), com situações estranhas acontecendo no céu e impactando um ótimo elenco formado por Daniel Kaluuya, Steven Yeun, Keke Palmer e Brandon Perea.

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Envolvente e misterioso, intrigante e muito bem filmado, com Peele totalmente no controle da narrativa, “Não! Não Olhe!” é um belo terceiro trabalho de um cineasta que parece muito ciente de seu talento para compor imagens de impacto e construir produções que vão muito além de meros exercícios de tensão e terror.

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