Pam & Tommy

Pam & Tommy” começa mostrando uma entrevista de Pamela Anderson no programa de Jay Leno. O apresentador pergunta à atriz e modelo como ela se sentiu depois que teve um vídeo íntimo vazado, isso nos primórdios da internet, nos anos 1990. Antes dela responder, a minissérie corta para focar em como o vídeo em questão foi roubado.

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A princípio, a estratégia parece equivocada, com Pamela mal aparecendo no primeiro episódio da minissérie de oito episódios para dar foco aos dois homens responsáveis pela invasão de privacidade da coelhinha da Playboy e estrela da célebre série “Baywatch”: o namorado roqueiro e encrenqueiro e um simples carpinteiro que quer apenas vingança após ter sido humilhado pelo primeiro.

Depois desse pequeno desvio para contextualizar a trama, para a sorte do espectador, logo “Pam & Tommy” volta aos eixos colocando no centro das atenções seu melhor elemento: Lily James (de “Cinderella“), que foge do seu estereótipo de mulher comum para assumir o papel da voluptuosa atriz e modelo.

Dirigida cheia de estilo e vontade por diretores como Craig Gillespie (de “Eu, Tonya“) e a comediante Lake Bell, “Pam & Tommy” ganha corpo e alma quando a personagem e a atriz que a interpreta estão em cena. Demonstrando fragilidade e inocência na medida, Lily James cria uma Pamela Anderson cheia de carisma, uma mulher inicialmente ingênua que vai ficando totalmente ciente de seu papel dentro da indústria de entretenimento e que descobre, da pior forma possível, como é ser do sexo feminino em um mundo machista e covarde.

As cenas em que Pamela Anderson é julgada pela sociedade, em especial por uma fila infindável de homens, são duras de assistir, funcionando, infelizmente, como um reflexo da sociedade atual que, quase 30 anos depois do vazamento, ainda se acha no direito de querer controlar o corpo de uma mulher. Nesse sentido, “Pam & Tommy” acerta em cheio em seu discurso solidário, na medida em que pinta os homens que cercam Pamela como babacas e idiotas (inclusive o na época marido Tommy Lee, baterista de um grupo de rock que fez sucesso nos anos 1980 e um homem incapaz de entender o sofrimento da esposa).

Além de ser um retrato cruel de nossa sociedade, “Pam & Tommy” funciona ainda como uma cápsula dos anos 1990. Com uma ótima ambientação e trilha sonora, a minissérie comenta assuntos que reverberam até hoje, como a revolução que a internet traria à indústria pornô (e do entretenimento) e a sororidade feminina (enquanto os homens julgam e fazem piada com a intimidade de Pamela, todas as mulheres da minissérie a tratam com respeito e simpatia).

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Bem dirigida e ousada (em um episódio Tommy Lee conversa com o próprio pênis), “Pam & Tommy” não é perfeita, perdendo seu charme toda vez que se desvia de Pamela Anderson e Lily James (Sebastian Stan e Seth Rogen estão bem, mas não conseguem humanizar seus personagens, homens canalhas que nada mais são do que homens canalhas), mas a história é bem contada e envolvente, funcionando quase como mea culpa a favor de Pamela, alguém que merecia ter sido tratada com mais respeito.

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