
A minissérie “The Dropout” segue um caminho bem caro às produções hollywoodianas que usam o poder do audiovisual para contar uma trama de investigação onde os mais fracos vencem os mais fortes. Aqui, como alguns funcionários descontentes com a falta de ética de uma startup conseguem provar que a companhia é uma fraude e que coloca em risco a vida de milhares de pessoas.
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Emulando filmes como “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento” ou o vencedor do Oscar “Spotlight: Segregos Revelados”, a minissérie narra a história real de Elizabeth Holmes, uma mulher focada desde criança em vencer. Com um discurso genérico de coach de que quer mudar o mundo e salvar mais vidas, a CEO enganou grandes companhias, cientistas e políticos respeitados e os convenceu a investirem em uma nova tecnologia de coleta de sangue e análise de resultados que nunca realmente funcionou.

Ainda que nos últimos episódios a minissérie caia no lugar comum da encenação edificante que mostra que há justiça no mundo, “The Dropout” consegue fugir ao máximo desse registro, focando menos no processo de derrocada da empresária e mais em como ela chegou ao sucesso e foi comparada a Steve Jobs e outros midas tecnológicos, deixando um rastro de mentiras e comportamentos profissionais abusivos em nome do sucesso, da ganância e da certeza da impunidade.
Depois da indicação ao Oscar em 2021 por “Mank” e mais uma vez provando que é uma atriz que merece mais respeito de Hollywood, Amanda Seyfried interpreta Elizabeth Holmes como uma mulher determinada a vencer. Mais do que o divulgado sonho de salvar vidas ou mesmo os rios de dinheiro que ganhou, ela queria provar que estava certa, independente de qualquer implicação ética e moral. Seyfried entende isso e contrói o retrato de uma mulher fria que sabe usar a sua cara de menina e o discurso progressista de mais mulheres em cargos de poder para conseguir o que deseja.
Diante de uma abordagem convencional, até característica desse tipo de produção que precisa primeiro criar revolta para chegar ao alívio, são os olhos e a voz cambaleante de Amanda Seyfried que costuram a trama e prendem a atenção do espectador. Ela já é, inclusive, uma das favoritas para levar o Emmy de melhor atriz em minissérie.

Diferente de Anna Delvey, de “Inventando Anna”, outra minissérie que lida com uma jovem mulher enganando homens poderosos com facilidade, a Elizabeth Holmes de Amanda Seyfried não acredita na sorte ou é pintada de forma ingênua e vaidosa. Ela é retratada como focada e como alguém que sabia dissimular para obter os resultados esperados, mais dinheiro de investidores para manter sua startup funcionando, ignorando no processo o trabalho de cientistas e pesquisadores e eliminando qualquer um do seu caminho, com a ajuda do amante (Naveen Andrews), que encobria as mentiras de Elizabeth até ser atropelado por sua frieza e indiferença.
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Com um tom mais sóbrio que deixa de lado as fírulas narrativas, algo que atrapalha o desenvolvimento de “Inventando Anna”, por exemplo, “The Dropout” se torna um retrato assustador de como a sede pelo sucesso, uma das bases fundadoras da lógica capitalista, é devastadora e afeta, direta e indiretamente, a vida de todos. Assim como as recentes “We Crashed” (Apple TV Plus) e “Super Pumped: The Battle for Uber” (ainda indisponível no Brasil), “The Dropout” mostra o lado mais perverso do capitalismo e da dinâmica das novas startups unicórnios que não hesitam em passar por cima de tudo e todos.
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