
Shonda Rhimes pode ser uma das midas atuais da TV/streaming, tendo no currículo sucessos como “Grey’s Anatomy“, “Scandal“, “How to get away with murder” e, mais recentemente, “Bridgerton“, mas sutileza nunca foi o forte da produtora. Baseada em fatos verídicos, a minissérie “Inventando Anna” (disponível na Netflix) segue o mesmo modus operandi de Rhimes, com um texto pobre e encenação melodramática embalados em uma edição ágil e “moderna” costurando um vai e volta no tempo e múltiplos pontos de vista.
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Seguindo a cartilha do cinema e televisão que adora transformar criminosos e vigaristas em anti-heróis, a minissérie de nove episódios conta a história de Anna Delvey (ou Anna Sorokin), uma garota de 25 anos que engana meia Nova York e dá calotes em bancos, hotéis, investidores e socialites enquanto cria a história falsa de ser herdeira de uma família milionária de alemães.
Apesar de ser inspirada em uma história real que chocou Nova York, no começo de cada episódio, a minissérie já deixa claro que não tem nenhuma intenção de ser totalmente verdadeira aos fatos. Rhimes usa a história apenas como mote de uma trama sobre ganância, ingenuidade, esperteza e jornalismo, já que a história é contada a partir de uma matéria feita sobre a garota.
Grande parte de “Inventando Anna” foca então na forma como uma repórter grávida e com uma má reputação no mercado de trabalho tenta entender a história dessa garota de origem russa que mente sobre suas origens para tentar criar uma espécie de clube exclusivo para ricaços em Nova York, embolsando milhares de dólares no processo e se infiltrando na mais alta sociedade de Nova York sem gerar nenhuma desconfiança.

A estratégia narrativa funciona como fio condutor dos episódios, contados a partir de múltiplos pontos de vista, mas peca ao tirar o foco da personagem central, que, às vezes, parece coadjuvante da própria história. Infelizmente, o recurso também abre mais espaço na trama para a bem menos interessante jornalista Vivian Keint (vivida de forma um tanto afetada por Anna Chlumsky, a ex-garotinha de “Meu Primeiro Amor“).
Sem muita sutileza e complexidade, mas de forma envolvente, a minissérie também não se decide sobre como representar Anna. Em um momento, o programa dá a entender que a garota é simplesmente um gênio dos negócios. Já em outros, a minissérie a transforma em uma vítima da sociedade patriarcal, como se o simples fato dela ser uma mulher enganando homens brancos engravatados e cheios de dinheiro minimizasse o fato dela ser uma criminosa.
No meio dessa abordagem um tanto equivocada e bagunçada sobre a vida da alta elite novaiorquina, Julia Garner (vencedora do Emmy por “Ozark“) faz o que pode com a personagem de Anna Delvey. Com um sotaque que tem desagrado à maior parte do público, a atriz cria o retrato de uma garota experta e que se acha superior a todos, mas, graças ao texto superficial e à realização clichê (alguns episódios são dirigidos por David Frankel, de “Sex and the City” e “O Diabo Veste Prada“), falta um toque mais humano à personagem, que nunca parece realmente uma pessoa de verdade.
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Com episódios extremamente longos que tornam a trama cansativa e repetitiva, “Inventing Anna” está muito mais interessada na polêmica e na espetacularização do que em tentar desvendar minimamente as motivações de Anna Delvey.
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