
“Sex and The City” fez parte do renascimento da TV no final dos anos 1990, alavancado pelo conteúdo produzido pela HBO. Fruto do seu tempo, a série sobre quatro mulheres brancas e abastadas que circulam pela high society de Nova York e cuja maior preocupação é encontrar o amor envelheceu mal, sendo ainda maculada por dois filmes fracos (sendo o último simplesmente pavoroso). Sem nenhuma razão de ser, no entanto, a série voltou em forma de minissérie em “And Just Like That: Um novo capítulo de Sex and The City”.
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De cara, um dos maiores problemas dessa continuação desnecessária é tentar a todo custo se manter atual, fugindo como o diabo foge da cruz da falta de diversidade da série original. O tiro, porém, sai pela culatra, com um resultado forçado e que, às vezes, beira o constrangedor, com a minissérie a todo momento jogando na cara do espectador o quanto as personagens estão tentando se manter atualizadas nesse “novo mundo” diverso e progressista.
Nessa luta constante em busca pela diversidade, a minissérie atira para todos os lados, tentando ao máximo inserir as três atrizes brancas em um cenário mais plural. Temos a nova amiga de origem indiana de Carrie (claramente tentando substituir Samantha, já que Kim Cattral se recusou a voltar a interpretar a icônica personagem); a amiga negra ricaça de Charlotte, que ainda precisa lidar com a transexualidade da filha; a professora negra de Miranda, cuja personagem não tem nenhum real propósito; e o novo interesse romântico de Miranda, a personagem não-binária Che.

Claro que o esforço para as personagens estarem antenadas aos novos tempos é válido, mas o roteiro não acompanha a proposta e o que a minissérie entrega são cenas e situações mal amarradas e que nada realmente agregam às protagonistas ou mesmo ao espectador. Perdida entre a nostalgia da série original e esse arremedo de novidade que patina em suas boas intenções, “And Just Like That” não convence ou comove com seu discurso acuado de “não podemos nos manter iguais”.
Parte do fracasso da estratégia recaí sobre o próprio ombro das personagens. A questão do amadurecimento sempre paira no ar, por exemplo, mas Carrie (Sarah Jessica Parker), Charlotte (Kristin Davis) e, em menor grau Miranda (Cynthia Nixon), parecem presas em seus próprios estereótipos, nunca parecendo terem mudado de verdade. Ainda que Carrie perca parte dos holofotes, a personagem segue autocentrada e alheia aos outros. Charlotte, sempre a menos interessante, continua irritante e alienada, mesmo o roteiro forçando a personagem a abrir os olhos para o mundo.
Já o arco de Miranda, cansada de um casamento sem paixão, parece mais interessante, mas o roteiro a transforma em uma adolescente apaixonada, deixando de lado a inteligência e segurança características da personagem. A minissérie ainda exagera na representação de seu interesse romântico, enfiando stand-ups de Che do nada em longas e desnecessárias cenas que mais parecem palestras sobre identidade de gênero do que um recurso narrativo orgânico. É uma estratégia estranha que diz mais sobre a necessidade da minissérie em representar a todos e não ofender ninguém do que propriamente fazer sentido para a trama.

Entre mais picuinhas, outra opção equivocada é jogar a própria briga dos bastidores entre Sarah Jessica Parker e Kim Cattral no meio da trama, trazendo para a história o próprio desentendimento entre as atrizes para justificar a saída de Samantha, a personagem mais interessante do quarteto, aqui tratada de forma injusta como se ela fosse uma mulher mimada. O destino de Big também não é bem desenvolvido e só parece demonstrar que os produtores da série só acham Carrie uma personagem relevante se ela estiver sozinha e sofrendo.
Ainda que “And Just Like That” seja melhor do que o segundo filme (o que não quer dizer muita coisa), é um pouco triste ver tanto as atrizes como os próprios fãs reféns de personagens que parecem não ter mais muito o que dizer. A minissérie fica devendo às mulheres maduras uma representação melhor, mas, honestamente, espero que a trajetória das personagens termine por aqui. É hora de seguir em frente.